Amílcar Falcão: “Se o prato social não está em todas, está em quase todas as cantinas. Nas que não está é porque há uma cantina do outro lado da estrada”
As obras no edifício-sede da AAC, a ação social na Universidade de Coimbra e a relação com a AAC e com a CMC foram alguns dos principais temas tocados pelo reitor Amílcar Falcão na sua passagem pelo programa Observatório.
A poucas semanas do arranque das obras na casa da Associação Académica de Coimbra (AAC), e apenas dois dias depois da passagem de José Manuel Silva pelos estúdios da RUC, chega a vez do reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, ser ouvido no espaço de comentário do Observatório.
“Estas obras são uma oportunidade para revitalizar e reajustar o uso deste edifício”
A muito aguardada intervenção que o edifício-sede da AAC vai conhecer a partir do próximo dia 2 de maio foi o primeiro tema discutido pelo reitor. Lembrando que o processo vai passar por dois momentos diferentes – um primeiro instante no qual a UC vai investir do seu próprio dinheiro (200.000€) para resolver a problemática das infiltrações, e um segundo em que a intervenção deve ser mais profunda, mas para a qual a origem das verbas ainda não é conhecida -, Amílcar Falcão espera que as obras possam oferecer melhores condições aos estudantes. No entanto, o dirigente máximo da UC acrescenta que “estas obras são uma oportunidade para revitalizar e reajustar o uso deste edifício”, uma vez que afirma saber da existência de espaços subaproveitados ou fechados, tanto como da falta de algumas estruturas necessárias que atualmente não existem.
O crescimento da Associação Académica, cada vez mais apertada num edifício insuficiente para responder às necessidades de quem o habita, não parece sustentável ao antigo diretor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), que afirma que a AAC “pode ambicionar crescer, mas não é uma empresa”, apontando que a instituição faz já uso de uma série de espaços espalhados pelo campus universitário via núcleos de estudantes. O reitor explica ainda que “não temos tantos edifícios devolutos assim como possam pensar” e, quando questionado sobre a falta de locais de trabalho de que se queixam algumas secções, como é o caso da Secção de Fado da AAC (SF/AAC), Amílcar Falcão responde com a recente revitalização da Casa das Caldeiras e atira: “de todas as secções da AAC, a secção de fado talvez seja aquela com menos razão de queixa”.
“Não ia dizer «não se vacina em Coimbra porque há duas secções que querem treinar no pavilhão». Até fica mal às secções virem com esse argumento que demonstra uma pobreza de espírito muito grande”
Naquilo que ao desporto diz respeito, o reitor da UC não se quis alongar. A responsabilidade de criação de espaços dignos para as secções desportivas é, segundo afirma, do Estado e, por consequência, da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), que gostava de “ver a apoiar mais a AAC”. Recordando a ocasião em que, no passado mês de dezembro, o centro de vacinação passou para o Pavilhão 1 do Estádio Universitário, Amílcar Falcão afirma “não compreender o que passa na cabeça de alguém” que aponta a continuação dos trabalhos desportivos como prioritários face à vacinação massiva da população conimbricense.
Ainda na questão dos espaços, o reitor teve também a oportunidade de expressar a sua vontade de que haja uma reaproximação entre o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) e a comunidade estudantil, frisando que espera “chegar a um acordo com a AAC de forma a que as secções que necessitem da utilização do TAGV possam ter representantes na própria gestão e nas decisões da sua utilização”. O entrevistado deixa também a nota de que irá ser estudada a possibilidade de haver dias disponíveis no calendário para que se façam algumas atividades, “um pouco à semelhança do que acontece no universitário, onde há uma situação de utilizador-pagador, mas com um pagamento pouco mais que simbólico”.
“Com o consumo que existe, as [cantinas] azuis chegam perfeitamente”
Entretanto, o foco mudou para o tema da ação social. A falta de prato social nas cantinas rosas e amarelas – uma discussão constante em Assembleias Magnas da Associação Académica de Coimbra – é, segundo indica o reitor da Universidade de Coimbra, justificada pela diminuição do afluxo de estudantes que vão às cantinas : “estamos nem a 60% das pessoas que iam comer às cantinas pré-pandemia”. No entender de Amílcar Falcão, “esta será uma tendência com alguma estabilidade”, uma vez que quem frequenta o ensino superior na UC já se habituou a procurar outras soluções. Confrontado com as impeditivas filas no acesso às cantinas azuis (a par da cantina das químicas, as únicas com prato social no Polo I) – uma situação que, de acordo com aquilo que é descrito numa reportagem da edição 307 do Jornal Universitário “A Cabra”, faz com que muitas pessoas já tenham evitado consumir nas cantinas -, o reitor reflete sobre a coincidência horária na saída para a hora de almoço dos estudantes e promete “procurar saber”.
No âmbito da desmaterialização, a conversa acaba também por recair sobre a aplicação SASUC Go, hoje essencial para quem queira usufruir de uma refeição nas cantinas da UC. Perante as queixas de muitos estudantes, que até já convocaram uma manifestação contra (entre outras coisas) a exigência da app, o antigo professor da FFUC afirma já ter procurado corrigir uma das principais falhas apontadas – a obrigatoriedade de carregamento mínimo com 5€ – e, interrogado sobre a recente limitação das cantinas aos estudantes universitários, replica que a ação social não é para não estudantes, dado que a UC “não é a Santa Casa da Misericórdia”.
É um problema que as repúblicas não sejam apenas de estudantes? “É inaceitável”
Conforme explica Amílcar Falcão, as repúblicas, que já tinham sido um tema abordado pelo presidente da Câmara José Manuel Silva, têm tido um apoio muito forte da Universidade. Seguindo um despacho reitoral emitido por João Gabriel Silva, o atual dirigente revela que “nós apoiamos a compra das instalações onde as repúblicas estão instaladas e temos um valor substancial que é dado pelos Serviços de Ação Social da UC (SASUC) em alimentos que são dados às repúblicas”. Apesar da relação de proximidade mantida com as instituições, o reitor não deixa de exprimir o seu desagrado com a crescente presença de inquilinos não estudantes.
Debruçando-se sobre a questão das residências, o entrevistado comenta que a Universidade tem feito um esforço para conseguir reabilitar e criar mais camas para os estudantes, salientando que “metemos lá [no PRR] várias residências para requalificar e construir de novo”. Pegando nas queixas levantadas pela Direção-Geral da AAC (DG/AAC) e pelos estudantes do Conselho Geral da UC (CGUC), Amílcar Falcão acaba por se prender com a alegada falta de comunicação entre delegados de residências e SASUC – uma reclamação que não compreende porque “hoje em dia com os telemóveis nem estou bem a ver qual é problema de falha de comunicação”.
“Também gostava que todas essas entidades [UC, AAC e CMC] colaborassem muito bem, mas não se dança o tango só com uma pessoa”
As relações entre Universidade de Coimbra, Associação Académica de Coimbra e Câmara Municipal de Coimbra foram também tema do programa. Depois do presidente do executivo camarário ter afirmado que as principais instituições da cidade têm de unir esforços entre si para procurar o desenvolvimento de Coimbra, o reitor mostra-se apreensivo, afirmando que “entre a UC e a AAC tem havido uma harmonia muito grande. Em relação à CMC, eu gostaria que, quando houvesse essas oportunidades (e já as houve), a Câmara fosse célere em aprovar-nos e em ajudar-nos a melhorar os projetos para que as coisas andassem com mais rapidez. No passado não houve, mas também ainda não notei nenhum aumento de rapidez nos processos”.
“Temos carta de princípios, código de conduta, provedor de estudante, comissão de trabalhadores, núcleos de estudantes de proximidade, diretores de unidades orgânicas e gabinete no Student Hub para atendimento dos estudantes. Neste momento só não denuncia quem não quiser”
No seguimento das várias denúncias de assédio que têm assolado diversas faculdades do país (as queixas na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa desencadearam uma série de acusações de norte a sul de Portugal), Amílcar Falcão afirma que “não temos de criar gabinete e mais gabinete para provar que dormimos de consciência tranquila”, firmando que a Universidade de Coimbra não tem de fazer mais para incentivar a comunicação dos estudantes. Apesar de fazer questão de dizer que “não se pode entrar em histerismo e denunciar numa atitude coletiva com base em bocas”, o reitor é claro quanto à tolerância zero em relação a este tipo de situações e remata dizendo que “se houver provas, não tenham dúvidas de que vou até às últimas consequências. Eu despeço um professor se for preciso”.
(Os estudantes da UC que pretendam receber apoio ou relatar alguma situação de assédio podem fazê-lo através do Provedor do Estudante (https://www.uc.pt/provedor/contactar), o Gabinete de Apoio ao Estudante ([email protected]t ou presencialmente no Student Hub) ou através da linha SOS Estudante (915246060 / 969554545 / 239484020).)
Pode ouvir a entrevista completa no link acima ou no nosso Spotify.