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Carolina Rocha: “Fazer muitas coisas com muito pouco dinheiro é sempre mau sinal”

O ensino superior, os problemas dos bolseiros de investigação e a cultura foram os temas em destaque no comentário de Carolina Rocha.

A representante da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) e membro do Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) Carolina Rocha foi a responsável pelo comentário do Observatório da passada terça-feira, dia 5.

“Muitas vezes acusam-nos de as nossas reivindicações serem sempre as mesmas. Isto só augura coisas más, quer dizer que as coisas não melhoraram”

Numa altura em que se vão relembrando as duas maiores crises académicas dos anos 60, Carolina Rocha começou por comentar o estado atual do Ensino Superior português. Apesar de assinalar que se têm notada algumas melhorias que são fruto da luta em que os estudantes continuam a insistir, a comentadora defende que ainda existem uma série de problemas que põe em causa a democraticidade do acesso à educação (a falta de residências de estudantes, a continuidade de pagamento de uma série de taxas emolumentos e propinas, etc.).

De acordo com a doutoranda, os efeitos do RJIES e do processo de Bolonha, que ainda se vão sentindo no meio académico, têm levado a que a vida universitária seja cada vez mais profissionalizante, deixando de parte toda uma vertente que “faz parte da nossa formação enquanto indivíduos”. Deste modo, Carolina conclui que “além de impedir a possibilidade de ter cadeiras mais bem construídas, a diminuição dos cursos limita também a possibilidade de associação – quer seja para reivindicar a melhoria das nossas condições de formação ou para fazer parte de secções e organismos”.

“Sendo bolseira de investigação no doutoramento, as reivindicações são um bocadinho diferentes: o que nós gostávamos de ter era contratos de trabalho”

Naquilo que aos bolseiros de investigação diz respeito, a representante da ABIC deixa claro que a sua principal preocupação é querer “deixar de ser estudante e passar a ser trabalhadora efetiva”. Desenvolvendo a ideia, Carolina Rocha explica que “isto não nos conta como emprego – somos bolseiros de investigação, não somos trabalhadores”, considerando que esta categorização os deixa privados de uma série de direitos básicos, tal como o acesso à reforma:  “É inadmissível que uma pessoa de 50 anos viva a sua vida toda como bolseira de investigação e não tenha direito a uma reforma justa porque nunca teve contrato de trabalho”.

Relembrando a reivindicação pelo prolongamento das bolsas extraordinárias, a entrevistada esclarece que as exigências não foram atendidas pelo Ministério da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior, que “manteve a ação negativa de desrespeito pelos bolseiros de investigação científica e pelos trabalhadores de ciência”. Segundo aponta, Manuel Heitor acabou por afirmar que «houve demasiadas candidaturas» e que não estavam à espera, por isso demoraram a dar resposta – algo que Carolina Rocha não compreende, acrescentando que o pedido era apenas “por favor deixem-nos trabalhar mais um bocadinho”.

“É inadmissível que a reivindicação que continua a existir há milhões de anos seja a de 1% para a cultura – 1% não é nada”

A investigadora, que pertence também GEFAC, terminou o programa Observatório a falar de cultura. Dando ênfase à imensa precariedade em que o meio está envolto, Carolina afirma que muitas vezes o dinheiro que se pede são “migalhas” e que mesmo assim os pedidos não são atendidos. No seu entender, a frase “Com pouco faz-se muito”, várias vezes proferida por quem financia a cultura, dá sinais muito negativos e levanta os problemas que enfrentam os trabalhadores do setor.

Colocando o exemplo do grupo que integra em cima da mesa, a doutoranda destaca o subfinanciamento de que Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (mas também os outros Organismos Autónomos e secções culturais da AAC) é vítima. Numa altura em que acontecem as XVIII Jornadas da Cultura Popular, evento que o GEFAC organiza de dois em dois anos sobre a cultura popular portuguesa, Carolina Rocha expõe que o organismo tem enfrentado muitos problemas para conseguir organizar o espetáculo e que as verbas que vão chegando da reitoria não chegam para manter a funcionar um grupo que, apesar de não ser profissional, “tem de pagar a trabalhadores da cultura para fazer o seu trabalho”

Para ouvir a entrevista completa basta clicar no link acima ou aceder ao nosso Spotify.

 

 

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