36 sóis postos na Casa das Artes Bissaya Barreto

A cidade é uma confusão. Cansa-nos a vista com seus áridos jardins e prédios cinzentos. Tira-nos o apetite com os seus fétidos odores e aromas poluídos. Enruga-nos a pele com o seu seco calor e os seus suspiros de tubo de escape. Preenche-nos os ouvidos com as suas estridentes buzinas e travões enferrujados. A cidade é uma confusão. Contudo, é também no seu interior que se esconde o mais idílico dos refúgios desta azáfama citadina.

Algures entre os palacetes da Avenida Sá da Bandeira, esconde-se uma casa acolhedora, que cativa a nossa atenção com as suas esplendorosas árvores e paredes rosadas. Uma casa perfumada de orvalho fresco e cigarros flamejantes, que nos rejuvenesce a pele e a alma com saborosos raios de sol. Uma casa onde o ruído citadino é abafado por funaná e carimbó. É nas suas traseiras que encontramos o quintal mais bonito da cidade. Aqui, crianças, jovens e adultos respaldam-se no verdejante relvado, cujo conforto não fica atrás de um qualquer sofá. O quintal da Casa das Artes é o palco perfeito para brincadeiras de faz de conta dos miúdos ou conversas amenas dos graúdos. É o palco perfeito para corriqueiros encontros ou aguardados reencontros.

Os sons brasileiros de Emanuel Graça trazem consigo uma lufada de ar quente, que se opõe ao vento frio de abril sentido lá fora. Estes sons aconchegantes são harmonizados por copos tilintantes e musicados por conversas fiadas em diferentes idiomas. A banda sonora combina tão perfeitamente com o sol que àquela hora se põe, criando um ambiente acolhedor e familiar. Que bom que é poder crescer com Erasmo Carlos e envelhecer com Fafá de Belém.

Aos 36 anos, a Rádio Universidade de Coimbra é também ela uma mãe. Na Matinée da Casa das Artes Bissaya Barreto, segura orgulhosa o seu copo de vinho enquanto afaga o pelo suave do seu cão. Solta um pezinho de dança com Os Originais do Samba enquanto nós, seus filhos, corremos livres com Rita Lee.

 

A Matinée de 1 de abril foi, provavelmente, a celebração mais doce e familiar deste trigésimo sexto aniversário da Rádio Universidade de Coimbra. Esta celebração reuniu gerações e famílias, fundiu-as numa só. Uma só família que brevemente habitou a casa cor de rosa da Avenida Sá da Bandeira e nela festejou a música e a vida. Uma só família que personifica as idades, as ideias e os ideais da nossa Rádio.

No entanto, a derradeira festa de aniversário ainda está para vir. Temos encontro marcado a 21 de abril, na Real República Rapó-Taxo, para o encerramento das comemorações destes 36 anos. Conta-se com uma aguardada “Festa RUC”, que promete celebrar o amor, o experimentalismo e acima de tudo a liberdade concedida pela Rádio Universidade de Coimbra. Estão convidados todos aqueles que, ao longo destes largos anos de existência, sintonizaram e continuam a sintonizar os 107.9 FM. Todos aqueles que sonharam e ajudaram a concretizar este sonho de liberdade. Todos vós, celebrem connosco!