Semana Internacional do Cérebro: Doença Bipolar
No âmbito do dia internacional da doença bipolar, comemorado a 30 de março, a investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade Coimbra (CNC-UC) Ana Catarina Pereira destacou a importância de compreender, em sociedade, as implicações da bipolaridade
Em entrevista exclusiva à Rádio Universidade de Coimbra, a aluna de doutorament0 em Biologia Experimental e Biomedicina clarificou que a Doença Bipolar é um transtorno mental caracterizado por alterações intensas de humor, que oscilam entre fazes de mania e depressão profunda. A investigadora adverte que pequenas alterações de humor com justificações não constituem um sintoma de bipolaridade e que a sociedade devia ser mais cuidadosa a identificar indivíduos e estados de coisas enquanto bipolares.
As causas da Doença Bipolar são incertas, todavia, sabe-se que a genética e alterações na estrutura cerebral podem influenciar o desenvolvimento desta condição. Para além disso, Ana Catarina Pereira sublinha que o nosso ambiente envolvente pode condicionar o aparecimento da doença, em particular, a exposição a situações prolongadas de stresse, maus tratos na infância ou abusos sexuais.
A Doença Bipolar, que atinge quatro por cento da população adulta mundial, afeta o tempo de reação, a memória e o sono. Como a especialista explicou, os doentes em fase depressiva, que dura pelo menos 15 dias, tendem a dormir mais do que o normal pelo que quando estão em fase maníaca, com uma duração aproximada de uma semana, a necessidade e vontade de dormir e descansar são quase nulas.
Ana Catarina Pereira referiu que o desemprego, resultante do desleixo para com os compromissos profissionais e o divórcio são, também consequências notáveis para os doentes bipolares. Os sintomas psicóticos que originam alucinações e delírios, o aumento do consumo de substâncias abusivas e a taxa elevada de suicídio são resultados preocupantes do desenvolvimento da Doença Bipolar.
O tratamento da Doença Bipolar é elaborado tendo em conta as especificidades de cada paciente e pode ser realizado por duas vias: uma abordagem farmacológica(com recurso a antidepressivos e estabilizadores de humor) e uma vertente de terapia mental na qual o doente é sujeito a acompanhamento especializado por psicólogos e psiquiatras. Apesar dos medicamentos poderem ter efeito secundários, a investigadora do CNC reiterou que é impossível tratar um doente bipolar sem recurso a fármacos.
Ana Catarina Pereira confessa que o estudo da Doença Bipolar é desafiante. Tendo em conta que é um transtorno do foro mental e que os investigadores não conseguem ter acesso aos neurónios dos doentes, a investigadora afirmou que a comunidade académica estuda fibroblastos(células da pele) de doentes bipolares e que depois os compara com indivíduos saudáveis.
Apesar de todos os desafios, Ana Catarina Pereira demonstrou-se confiante acerca de uma nova técnica de estudo da doença. A partir da reprogramação genética dos fibroblastos, refere ser possível criar neurónios com bipolaridade que recriam melhor o modelo celular da doença e portanto, auxiliam a compreender melhor a bipolaridade.