Joana Guedes: “O objetivo é sempre ajudar as pessoas”
Investigadores do CNC trouxeram ao espaço do Observatório a perspetiva de quem investiga no âmbito das neurociências e o impacto direto que a ciência pode ter na sociedade.
No âmbito da Semana Internacional do Cérebro o Observatório desta quinta-feira, dia 24, contou com o comentário de dois investigadores, Joana Guedes e Luís Ribeiro, que tiveram oportunidade de explicar algumas das investigações levadas a cabo no laboratório do Centro de Neurociência e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC) e a sua importância na possível melhoria da qualidade de vida da sociedade.
“Sempre com o objetivo de melhorar a vida das pessoas”
Joana Guedes avança que apesar do foco principal da investigação do CNC ser dentro das neurociências, existe uma panóplia de áreas de estudo como “células estaminais, [estudos] na área do envelhecimento, na área do metabolismo, na biotecnologia” que também são alvo de estudo pelas dezenas de pessoas que fazem parte do laboratório que tem como foco as “ciências da vida e ciências da saúde”. A investigadora salienta que o objetivo de cada cientista é de melhorar a vida das pessoas e que a pandemia de Covid-19 veio demonstrar a capacidade da ciência se mobilizar na procura de respostas, neste caso com a criação de vacinas, que têm impacto direto na vida e na saúde da sociedade.
“As nossas melhores ideias começam simplesmente por curiosidade”
Luís Ribeiro ressalva que, muitas vezes, a ideia de começar a estudar determinado tema surge apenas por “curiosidade” de explorar determinado assunto que ainda não foi alvo de estudo, mas confessa que quando procurar um significado para esse estudo encontram uma aplicação direta e real, num curto a médio prazo, na saúde.
A investigadora do CNC desvendou alguns pormenores acerca do estudo que tem agora em mãos. Joana Guedes está inserida no grupo de “círculos neuronais e comportamento” e explica que a investigação foca-se na relação entre ambiente e o comportamento do nosso cérebro perante os estímulos exteriores. De momento, o grupo está a trabalhar no estudo de doenças do neurodesenvolvimento infantil, como perturbações do espectro do autismo ou a hiperatividade, e a possível relação com fatores ambientais que afetaram o sistema imunitário devido, por exemplo, a uma forte gripe ou uma alergia severa nos primeiros anos de vida de uma criança.
“O cérebro não é [um órgão] estaque”
Os neurónios são diferentes das outras células do corpo humano, porque, em modo geral, têm características morfológicas muito distintas e complexas. Luís Ribeiro na sua investigação procura respostas acerca das ligações físicas e químicas, conhecidas por sinapses, que ocorrem entre as células cerebrais, com o objetivo de entender o funcionamento e desenvolvimento do cérebro, ao longo da vida.
É no início da vida humana que o cérebro é alvo de profundas alterações que serão cruciais para o resto da vida. Porém, Joana Guedes assegura que o cérebro está em constante desenvolvimento até ao fim da vida.
“É importante que se vivam mais anos de forma saudável”
A questão das doenças de foro neurológico trata-se de um problema na sociedade contemporânea como consequência da maior longevidade. Os investigadores ressalvam que são doenças bastante desafiadoras, porque os neurónios não têm capacidade de regenerar, por isso, quando ocorre a morte destes o cérebro não tem capacidade de recuperá-los.
Joana Guedes e Luís Ribeiro frisam que um dos grandes “desafios” da comunidade de investigação é desvendarem mais acerca do cérebro na busca de respostas para as consequências de doenças como o Alzheimer ou a doença de Parkinson.
“Temos uma regulamentação muito apertada para a experimentação animal”
Os investigadores do CNC tiveram a oportunidade de desmitificar o recurso a experimentação animal. Ambos defendem que a maioria dos estudos recorrem a experiências laboratoriais com ratos, porque são a “única maneira” de estudar comportamento social, realçou Joana Guedes. Luís Ribeiro acrescenta que os ratos têm um comportamento muito semelhante ao dos humanos, principalmente, nos aspetos dos comportamentos sociais. Frisaram ainda que a regulamentação animal é muito apertada e que o bem estar da espécie está sempre em primeiro.
A entrevista pode ser ouvida integralmente no link acima disponibilizado.