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25.03.2022POR João Dias E Matilde Sabino

Carla Baptista: “Vivemos em breaking news permanente”

Carla Baptista aborda vários temas do jornalismo atual, da comunicação política e a problemática da igualdade de género na área dos media.

Nos 36 anos da Rádio Universidade de Coimbra (RUC) são organizadas conversas com “O Tempo” como tema central. No dia 23 de Março, realizou-se a conversa “Tempo da Comunicação” com a presença de Carla Baptista, professora associada no departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, na Universidade Nova de Lisboa e investigadora no Centro de Investigação Media e Jornalismo. Contámos igualmente com a participação de Alexandre de Sousa Carvalho, investigador associado do Centro de Estudos Sociais e do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE IUL e Inês Amaral, professora associada da Secção de Comunicação do Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação (DFCI) da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigadora associada do Centro de Estudos Sociais na Universidade de Coimbra, que foram entrevistados na última semana.

“Tem sido um percurso grande de descobertas”

Carla Baptista concordou com a opinião lançada por Inês Amaral acerca dos media interativos, reforçando as potencialidades dos mesmos tais como a inclusão e a desierarquização. No entanto, a investigadora aponta os aspetos negativos como a desinformação e a desregulação que se agigantaram à medida que estas plataformas cresciam.

“A desinformação tem a capacidade de impor narrativa muito deslocadas do real”

A professora da universidade nova de Lisboa refere que a desinformação é um grande perigo para a democracia, explicando que as pessoas não podem tomar as decisões mais corretas mediante as suas opiniões, crenças e gosto a partir de factos que não possuem sustentação. A investigador acrescenta a existência dos algoritmos nas redes sociais como algo que pode ser perigoso para democracia, no sentido da seleção de conteúdo que é feita por esses algoritmos.

“Acho que foi uma campanha, do ponto de vista da cobertura jornalística, extremamente problemática.”

A posição da investigadora relativamente ao contributo da comunicação política no declínio da abstenção nas ultimas eleições legislativas, foi ao encontro da opinião de Alexandre de Sousa Carvalho. Segundo a entrevistada, os temas que guiavam a campanha eram construídos a partir das sondagens com informação errada e salientou o perigo da desinformação. De acordo com Carla Baptista, uma grande parte das pessoas se sintonizou com os debates porque queria receber informação eleitoral. No seu entender, o problema da desinformação é uma consequência dos tempos que vivemos atualmente com constantes breaking news, não havendo espaço para a aprendizagem dos erros, para estruturar essas aprendizagens e para mudar o comportamentos dentro das redações e nas relações da fonte.

“O jornalismo está profundamente subordinado a lógicas empresariais.”

Segundo a entrevistada, nos últimos anos, houve mudanças positivas na área dos média com uma juvenização da profissão jornalística, com cada vez mais pessoas com formação académica e uma feminização do jornalismo. No entanto, Carla Baptista referiu a existência de um paradoxo: por um lado, temos os profissionais mais bem preparados de sempre, mas por outro lado, os jornalistas têm pouco espaço para exercer o seu talento e criatividade. Na perspetiva da professora, o desafio passa por revalorizar a profissão do jornalista, que deve trabalhar para organizações que promovam culturas profissionais mais saudáveis e mais focadas no que é verdadeiramente importante na área jornalística.

“Continuamos a ter culturas jornalísticas que são profundamente desequilibradas do ponto de vista do género.”

Para rematar a conversa, abordou-se a questão da igualdade de género nos média. Carla Baptista concebe a importância de se criar agendas mediáticas feministas, mais inclusivas, para impedir o frequente desrespeito aos instrumentos de regulamentação como por exemplo painéis de comentadores em canais públicos com apenas uma mulher.

 

 

 

 

 

 

 

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