“Uma das causas mais óbvias para a subida dos preços [dos combustíveis] é a especulação”
A razão pela qual os combustíveis têm aumentado para valores nunca antes registados, a dependência energética de Portugal e da União Europeia em relação à Rússia e outros temas acerca do futuro da energia no mundo foram debatidos no comentário do Observatório de quarta-feira, dia 16 de março.
António Gomes Martins é doutorado em Engenharia Eletrótécnica e está ligado à Universidade de Coimbra (UC) desde os anos 70. Em 1974, integrou a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC). Mais tarde, foi professor e também Vice-Reitor da UC. Atualmente, é investigador no Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra (INESCC), do qual já foi presidente.
Portugal tem registado subidas consecutivas no preço dos combustíveis. Questionado sobre os aumentos do custo dos combustíveis em Portugal e a possível relação com o embargo ao petróleo da Rússia, o professor explica que os combustíveis que estão, neste momento, a ser vendidos a retalho a “preços elevadíssimos” foram comprados pelos fornecedores por um valor mais reduzido do que aquele que está a ser praticado agora. Por isso, defende que se trata de uma questão de “oportunismo”.
“Portugal tem um portefólio de abastecimento muito diversificado”
António Gomes Martins considera que Portugal tem uma maior “flexibilidade” na negociação do abastecimento de combustíveis com outros países, para além da Rússia, e acrescenta que “quase não dependemos do gás russo”. Porém, ressalva que, “no mercado mundial, o petróleo vai ficar, a longo prazo, afetado pelo facto de haver embargo em relação ao petróleo da Rússia”, que fará subir ainda mais o preço do barril de petróleo, a nível mundial.
“A eficiência energética e a produção renovável são dois pilares fundamentais das políticas energéticas modernas”
O investigador não tem a certeza se a guerra na Ucrânia vai ser um catalisador para o avanço das tecnologias renováveis, mas acredita que vão ser o futuro da energia. António Gomes Martins avançou que está em desenvolvimento uma “tecnologia de fusão termonuclear”, que “está a ter avanços todos os dias” e é vista como uma substituição para as energias poluentes atuais, bem como uma forma de acabar com a dependência energética em relação à Rússia. Segundo o professor, esta energia mostra ser mais segura, porque, ao invés de serem utilizados átomos com muitos neutrões, como o urânio ou plutônio, são usados átomos de hidrogénio e hélio para substituir os elementos químicos mais perigosos.
“Na última cimeira do clima foi decidido que se deviam investir 700 mil milhões de dólares para ajudar os países em desenvolvimento a aplicarem políticas de desenvolvimento sustentável. Ainda ninguém contribui com um dólar.”
A sustentabilidade e a necessidade de migrarmos para energias menos poluentes e mais sustentáveis é tema em várias cimeiras e acordos internacionais. O professor da área das energias critica a inação dos países desenvolvidos, que “são os grandes responsáveis pelas alterações climáticas”, por não apoiarem financeiramente os países em desenvolvimento a alcançarem as metas estabelecidas através de políticas mais sustentáveis no combate às alterações climáticas.
“Imaginem a quantidade de emissões que representam [todos os aparelhos militares]”
Ainda sobre a questão da poluição e dos acordos do clima estabelecidos ao longos dos últimos anos, o professor ressalva a ausência de dados acerca das emissões de CO2 dos aparelhos militares dos diversos países. Tanto no Acordo de Paris, como no de Kyoto, António Gomes Martins afirma que “em nenhum dos casos há uma tentativa de quantificação e de controlo das emissões de CO2 dos aparelhos militares”, mas são “gastos monumentais”, segundo o professor.