João Paulo Barbosa de Melo: “Como é que Putin pode perder a guerra e ao mesmo tempo não a perder?”
A invasão da Ucrânia, a situação económica de Portugal com a escalada de preços do litro da gasolina e o crescimento da inflação não passaram despercebidas ao convidado do Observatório. O deputado eleito pelo PSD nas ultimas Eleições Legislativas traçou o que considera ser o perfil ideal do próximo líder do seu partido.
João Paulo Barbosa de Melo antigo presidente da Câmara Municipal de Coimbra, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e deputado do Partido Social Democrata eleito pelas listas do distrito nas últimas Eleições Legislativas foi o comentador convidado do programa Observatório de segunda-feira, dia14.
O comentador manifestou surpresa pela situação no leste da Europa, “Atravessamos tempos únicos, há um mês atrás ninguém imaginaria que alguma vez estivéssemos a discutir estes assuntos” e congratula-se com o apoio que o povo Português e em particular o de Coimbra para com as vítimas da guerra da Ucrânia.
“Há um povo que está a ser martirizado”
“Era o que mais faltava que nós os de Portugal e nós os de Coimbra não estivéssemos de portas abertas para minorar o sofrimento das pessoas”. Contudo, manifesta algum receio de que “se esta guerra se prolongar pelo tempo, pode esmorecer a nossa indignação e quando esmorece a indignação esmorece a solidariedade a seguir”. Pela sua parte comprometeu-se a não deixar cair esta causa no esquecimento.
João Paulo Barbosa de Melo enfatiza que quando “começa uma guerra injusta”, o nosso coração espera ver o agressor a perdê-la, ou “estaríamos a beneficiar o infrator”. Mas, no caso da invasão da Ucrânia pelas tropas Russas, “estamos a falar de uma potência nuclear e de uma economia que tem uma grande força”. “Será que há condições para que Putin a possa perder?”, questiona o nosso comentador manifestando algum pessimismo.
Barbosa de Melo refere que a solução passa por responder à questão “Como é que Putin pode perder a guerra e ao mesmo tempo não a perder?” e duvida da capacidade que o povo Russo tenha, de, perante a pressão internacional, fazer mudanças por dentro do país e derrubar o governo de Putin.
Da mesma maneira, o professor da FEUC não acredita na capacidade do exército Ucraniano ganhar esta guerra. A este propósito, refere que os Russos não estão a invadir um país na África do Sul, “a Ucrânia é ali ao lado!, se não está a dar com 10 tanques manda 20, se não dá com 20 manda 30…”, contudo, não põe de parte um cenário de resistência armada Ucraniana após a tomada de poder pelo Exército Russo.
“Podemos viver com inflações de 8 a 10 por cento? Podemos , mas isto é muito perigoso a nível social”
O comentário prosseguiu abordando os efeitos da escalada de preços dos combustíveis e do crescimento da inflação na economia Portuguesa. Barbosa de Melo lembrou que a tendência inflacionista já estava em curso antes do estalar da guerra na Ucrânia “a gente já tem uma fogueira a arder e alguém decidiu deitar gasolina”. Segundo o professor da FEUC, com o início desta guerra “a fogueira da inflação só tem tendência para arder com mais força”. “Podemos viver com inflações de 8 a 10 por cento? Podemos, mas isto é muito perigoso a nível social”, explicou.
Em linha com as declarações do antigo presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, o comentador aponta para taxas de inflação de 8 a 10 por cento nos próximos tempos. Segundo o comentador, é possível viver com taxas de inflação altas e relembra o cenário económico Português após o 25 de Abril de 1974 com taxas de inflação entre os 20 e os 30 por cento.
Contudo adverte que “a inflação tem um problema: trata desigualmente as pessoas. Todas as pessoas que dependem de coisas fixas vão ficar a perder, quem pode atualizar os preços pode até ganhar”. A inflação mexe na distribuição dos rendimentos. “Podemos viver com inflações de 8 a 10 por cento? Podemos , mas isto é muito perigoso a nível social”, lembrou o comentador.
“Medidas de emergência ok, agora isto só vai ter bons efeitos se realmente esta crise for curta”
Barbosa de Melo refere a importância das medidas adotadas pelo governo para minimizar o impacto do aumento do preço dos combustíveis, mas adverte que estas soluções colocam os contribuintes a pagar uma parte do preço do litro do combustível, o que é insustentável a médio, longo prazo. “Fazer qualquer coisa é inevitável. Porque de repente começávamos a ter empresas em barda a fechar. Podia-se subsidiar o litro de gasóleo, as empresas(…) Estas medidas não podem ser para sempre. Medidas de emergência ok, agora isto só vai ter bons efeitos se realmente esta crise for curta”.
O comentador refere que a subida do custo dos combustíveis é o preço a pagar pelas sanções à Rússia que considera importantes, “não há volta a dar, podíamos ter assobiado para o ar e deixar a Rússia invadir a Ucrânia e continuar a comprar o gás natural e o petróleo à Rússia, e ficava tudo quase na mesma”. Ao tomar uma “decisão coletiva, pela primeira vez com alguma força, de resistir e fazer sanções a sério”, teremos de admitir que vamos ter consequências. “Isto vai-nos custar e é importante que o governo dar esta informação”, recomendou.
“Tem de ser uma pessoa capaz de juntar as peças do PSD” [o próximo líder do PSD]
No final, Barbosa de Melo comentou a situação atual do seu partido – o PSD. Na sua opinião há vários possíveis candidatos às diretas do partido, juntando a Luís Montenegro e Pedro Rodrigues, Ribau Esteves, Paulo Rangel e Poiares Maduro. Contudo, adverte que a tarefa não é fácil, na medida em que, o vencedor destas diretas vai enfrentar duas eleições internas num contexto de oposição a um governo de maioria absoluta que, “no limite, faz o que lhe apetecer”.
O comentador aponta para o perfil ideal de líder: “Neste momento o líder deve ter a perspetiva dos 4 anos e meio, de chegar às eleições”. Reforça ainda que “tem de ser uma pessoa capaz de juntar as peças do PSD”, “numa proposta articulada que seja interessante para as pessoas”.