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02.02.2022POR Gonçalo Pina

José Manuel Mendes: “A comunicação social esteve sempre do lado do PS”

As eleições legislativas do passado domingo estiveram no centro da análise feita por José Manuel Mendes.

José Manuel Mendes, sociólogo e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC) , foi o comentador do Observatório da passada terça-feira, dia 1 de fevereiro.

“O debate foi todo centrado no que António Costa queria”

No entender do comentador, a vitória do Partido Socialista (PS) nas eleições legislativas do passado domingo era previsível, dado o “desnorte” dos partidos de esquerda e a gestão política da campanha feita pelo primeiro-ministro. De acordo com José Manuel Mendes, a fuga a assuntos como o colapso do SNS ou os escândalos nos quais se viu envolvido o ex-Ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita ajudou António Costa a ditar a narrativa e a colocar o chumbo do Orçamento de Estado e uma alegada aproximação do PSD ao Chega no centro do debate.

Por outro lado, o sociólogo assinalou que Rui Rio se revelou um mau líder político ao demonstrar arrogância na interpretação das sondagens. Na sua opinião, é um erro menosprezar António Costa, um verdadeiro “animal político”.

“A geringonça foi fatal para eles [partidos de esquerda]”

Segundo considera José Manuel Mendes, o chumbo do Orçamento de Estado 2022 foi um grande erro para os partidos de esquerda que, agora, estão a sofrer as consequências. Começando por analisar a prestação da CDU, que viu o seu grupo parlamentar cair para metade, o comentador salientou que o PCP ainda se deve aguentar por ter uma base jovem muito forte da qual deve aproveitar um dos nomes que tem aparecido (Bernardino Soares, João Oliveira ou João Ferreira) para refrescar a sua liderança. Após esta queda gradual que seguiu a geringonça, o entrevistado acredita que o Partido Comunista “vai voltar à rua”.

Em relação ao resultado do Bloco de Esquerda, o sociólogo faz uma leitura diferente. Após a conquista de uma série de direitos sociais por parte do grupo parlamentar do partido, José Manuel Mendes afirma que agora o Bloco não tem muito por que se bater. Assim, no seu entender, o BE “ficou sem discurso, sem causas e sem eleitorado”.

“O PSD tem culpa porque reelegeu um líder inapto”

Apesar de acreditar que o maior partido da oposição sofreu com alguma antipatia do Presidente da República em relação ao seu líder, o sociólogo defende que o PSD é responsável pela reeleição de um secretário-geral que não tem resultado. De acordo com o comentador, parte dos eleitores do partido fugiu para a direita (uma parcela dos portugueses que, segundo considera, cabe ao PSD reconquistar) e outra parte saiu para o “centrão” com receio de acordos com o partido de André Ventura, a que Rio se “chegou”.

Naquilo que diz respeito ao crescimento da Iniciativa Liberal, um partido que o investigador crê que veio “para ficar” e que ainda não atingiu o máximo do seu potencial, José Manuel Mendes considera ser interessante este partido que se bate pela liberalização do mercado ao mesmo tempo que defende as lutas do Bloco de Esquerda. Lembrando um episódio num programa de humor televisivo, o comentador considera que se “o Cotrim levou o viagra, faltou alguém dizer à Catarina Martins para levar qualquer coisa”. No entanto, e apontando ao desaparecimento do partido liderado por Francisco Rodrigues dos Santos, o sociólogo afirmou que quem vota na IL são os antigos “betinhos do CDS”.

Olhando à expansão do Chega, José Manuel Mendes considerou que este era um voto “complexo”, uma vez que não parte apenas de “fascistas saudosistas do regime de Salazar”, mas também das forças de segurança e de outras franjas da população. Com isto, o comentador lembrou que uma partido não tem uma causa, algo que fica bem explícito num programa pequenino que “se lê num quarto de hora numa paragem de autocarro”.

Para ouvir a entrevista na íntegra pode aceder através do link acima ou do nosso Spotify.

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