Helena Freitas: “Não temos tido grande êxito na conservação dos recursos naturais”
O comentário do observatório do dia 20 de Janeiro contou com a participação de Helena Freitas, professora catedrática e mais recentemente eleita diretora do Parque de Serralves.
O novo cargo como diretora do Parque de Serralves, as medidas de proteção ambiental e o seu papel como coordenadora do Centro de Ecologia Funcional foram alguns dos temas abordados no comentário da edição do Observatório do dia 29 que contou com a presença de Helena Freitas, professora catedrática do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
“Há uma ampliação da responsabilidade e das tarefas”
Helena Freitas confessa que quanto à sua tomada de posse como diretora do Parque de Serralves se trata de um trabalho de continuação, já que coordenava a instituição desde 2020. A professora sente-se entusiasmada com o novo cargo. Segundo a própria, herda um bom legado que é composto por grupos de trabalho motivados. Como novas bandeiras, a docente da FCTUC quer trazer mais projetos que resultem na junção da arte e da ciência ao parque da cidade do Porto.
“Há uma atividade muito intensa que já temos vindo a impulsionar”
A nova diretora pretende dar continuidade a projetos já habituais no Parque de Serralves, como os eventos do Dia da Floresta e do Dia do Ambiente. Tem como missão também continuar a dar oportunidade ao primeiro contacto que muitos alunos têm num laboratório e promover o ciclo de conversas sobre ambiente. Helena Freitas espera ainda que a sua liderança “seja um tempo construtivo e de projeção ainda maior do Parque de Serralves”.
“O nosso objetivo é construir a agenda ecológica europeia”
Em relação ao seu trabalho como coordenadora no Centro de Ecologia Funcional, a investigadora considera que é sua obrigação levar a consciência ecológica e a preocupação sobre as consequências das alterações climáticas à população, tendo como propósito criar uma nova civilização ecológica, com soluções de desenvolvimento sustentável no ecossistema.
De forma a consciencializar a sociedade para as preocupações ambientais, Helena Freitas desenvolve projetos de bioenergia onde se incluem projetos de conservação da natureza, de desenvolvimento sustentável e de proteção dos ecossistemas. Todos têm como fim valorizar mais a natureza e os territórios.
“É preciso valorizar o património ambiental”
A docente da FCTUC afirma que está prevista a construção de um espaço laboratorial que tem como objetivo o foco num trabalho pedagógico com as escolas. No novo laboratório os jovens vão poder adquirir uma maior consciencialização ambiental e terão a oportunidade de um primeiro contacto com o conhecimento da biodiversidade existente na natureza. A promoção de ciclos de conversas e conferências irá ter um papel central nesse mesmo conhecimento interdisciplinar por parte dos mais jovens.
Já sobre a consciência das alterações climáticas, a professora afirma que as pessoas estão mais despertas para a problemática desde o último acordo de Paris. Adianta que o facto dos eventos extremos, como os grandes incêndios de 2017 em Pedrógão Grande terem ocorrido, serviu como catalisador na consciência das alterações climáticas no nosso país.
“As questões ecológicas foram muito laterais na campanha eleitoral, porque claramente não foram centrais ao debate”
Sobre a campanha eleitoral, Helena Freitas considera que, apesar de terem sido discutidos muitos temas, a falta de discussão sobre a ecologia foi acentuada e lamenta que questões tão importantes como a saúde ambiental tenham sido levantadas por apenas alguns partidos.
A investigadora considera que, globalmente os temas ambientais foram completamente “menorizados” durante a campanha eleitoral da maioria dos partidos políticos.
“No caso português temos problemas a que estamos muito desatentos”
A professora catedrática enumera algumas questões que considera preocupantes no território português e que não têm sido devidamente tratadas pelo governo tais como a questão da conservação da natureza, a crescente degradação de habitats naturais, a conservação do ecossistema, a poluição e a sobre-exploração de recursos.
Como políticas de matriz ecológica que os partidos deviam promover, a investigadora dá o exemplo da importância dos planos para regadios, pois hoje em dia intensificam-se culturas onde não existe capacidade de fornecimento hídrica suficiente, o que se torna insustentável. Helena Freitas afirma ainda que é preocupante a questão da seca que se evidencia principalmente na zona sul do país.
A incapacidade dos sucessivos governos de fazerem o cruzamento com a política agrícola florestal, a dificuldade de descentralização que o nosso país tem nas questões administrativas e as baixas taxas de natalidade devem ser também objetos de investigação, na opinião da professora catedrática.