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Climacção Centro: “Para evitarmos uma subida desregrada das temperaturas temos de agir já”

O mais recente relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi o mote para uma conversa com a Climacção Centro. Uma análise aos resultados divulgados e a visão desconexa do plano municipal de adaptação às alterações climáticas pelo executivo de Coimbra face ao actual contexto e que se encontra espelhada pelas lacunas que Miguel Dias e Nuno Martins lhe reconhecem.

Miguel Dias e Nuno Martins, dois membros do grupo Climacção Centro que pretendem ter uma voz e ser uma força viva na luta contra as alterações climáticas, ocuparam o espaço do comentário do Observatório de sexta-feira, dia 3 de Setembro.

Em Março de 2021 foi entregue uma petição à Assembleia Municipal que apelava à declaração de estado de emergência climática no município de Coimbra. A Climacção Centro, como colectivo informal de acção local, que pretende dar visibilidade à problemática das alterações climáticas junto dos decisores locais, foi um dos organismos que contribuiu para a organização do documento.  Os efeitos esperados de tal declaração traduzem-se na priorização de medidas de gestão executiva que potenciem a mitigação das alterações climáticas. A petição foi publicamente menosprezada pelo executivo camarário local ao ser apontada como “alarmista” e “extremista”.

Miguel Dias salienta que António Guterres, na qualidade de Secretário Geral das Nações Unidas, apelou para que todas as nações assumissem a declaração de emergência climática e que se trata de uma acção já assumida em cerca de 800 municípios em todo o mundo.

“Com este relatório, já não há espaço para negacionistas”

Para produzir o mais recente relatório, o IPCC analisou cerca de 1400 estudos, afirma Miguel Dias. “Aparentemente, não há nenhuma grande surpresa neste relatório mas existem pequenas confirmações”, das quais destaca a confirmação inequívoca da influência humana no aquecimento global, quando o anterior relatório (2013) apenas a sugeria como causa provável. Quanto ao contexto local, em medida de proximidade, apontam “um muro de resistência”. Face às acusações do município, o grupo advoga que a petição assenta somente, e apenas, na “constatação de factos científicos” que estão “em linha com as políticas oficiais da UE” e nacionais.

“[O relatório] Estabelece relações directas quantificáveis, mensuráveis, entre as alterações climáticas e, por exemplo, o incremento de eventos climatéricos extremos”, o que coloca em causa a habitabilidade do planeta por todos os seres vivos e o impacto de eventos violentos extremos que atingem “de forma mais aguda” comunidades e locais mais vulneráveis, assim salienta Nuno Martins. Este contexto remete inevitavelmente para a questão do aumento da temperatura, a propósito da qual Miguel Dias relembra que nos últimos 250 anos o planeta aqueceu 1,1ºC, sendo que agora se prevê que, na melhor das hipóteses, o aquecimento global médio do planeta nos próximos 20 anos seja de 1,5ºC.

O estudo contempla diferentes valores para a subida da temperatura entre 2050 e 2100 e, entre os cenários identificados, a dupla destaca que “se nada for feito, estas alterações climáticas vão ser dramáticas a partir de 2050”, salientando a possibilidade não muito distante de um aumento de 3,6ºC.

“[O relatório] continua a abrir uma janela de esperança para a humanidade mas também deixa bem claro que temos que agir já (…).”

Os activistas defendem que as diferenças de temperatura previstas no relatório não devem ser menosprezadas pois tal cenário “altera profundamente o funcionamento do sistema climático do planeta como um todo” com impacto profundo na produção de alimentos, na segurança hídrica, na conservação da biodiversidade e na qualidade de vida humana, entre outros. A respeito da acção humana possível para evitar os piores cenários, sublinham a importância da pegada ecológica.

No entanto, não se deixam ficar indiferentes face ao “nível de inconsciência colectiva espelhada pela forma como a CMC abordou (…) o programa municipal de adaptação às alterações climáticas”, apontando lacunas que revelam a ausência de tentativas para o envolvimento da população nas estratégias de combate por não identificar as principais fontes de emissão de gases de efeito de estufa. Como tal, referem que se encontram ausentes dados concretos sobre a poluição provocada pelos meios de transporte e o impacto dos edifícios – tratando-se, em conjunto, de quase 70% das principais fontes – bem como também não se aborda o impacto da indústria, em particular da agropecuária.

O foco agora é aquela que devia ser a proposta da autarquia para o plano de acção e que, ao invés do que urge, se revelou num documento “unidisciplinar” que não procura as soluções necessárias através de integração e participação de “vários especialistas”.

Certo é que, até ao momento, as propostas e sugestões da Climacção Centro estão sem resposta e a percepção do grupo é de que o município continua sem se abrir ao debate e sem integrar na agenda política um interesse coerente com as necessidades apontadas.

 

 

 

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