Pedro Proença e Cunha: “O património é um dos pilares do desenvolvimento e temos de intervir nele com conhecimento”
As intervenções da Câmara Municipal de Coimbra na escadaria do Quebra Costas e no Largo da Sé Velha foram o foco da entrevista. A introdução de granito polido em locais onde ele nunca existiu, a desfiguração de uma zona com classificação de Património Cultural da Humanidade pela UNESCO e a falta de transparência por parte da autarquia foram os principais destaques desta conversa.
O espaço de comentário do Observatório de 24 de junho contou com uma entrevista a Pedro Proença e Cunha, geólogo e investigador no Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e professor catedrático no Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Foi no dia 25 de maio que Pedro Proença e Cunha, ao ler um jornal local, se apercebeu que alguns dos históricos degraus de calcário das escadas do Quebra Costas tinham sido substituídos por degraus em granito. O professor do DCT-FCTUC, admite que foi um choque ver esta desfiguração de uma zona classificada como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO. Desde então tem acompanhado de perto este tema e tentado intervir de forma “pedagógica e completamente apartidária”, com o objetivo único de colocar travão nestas intervenções que estão a destruir parte do património da cidade.
“O concelho de Coimbra não tem granitos.”
Para Pedro Proença e Cunha, teria sido fácil encontrar um calcário exatamente igual ao que existia para esta intervenção. Refere ainda que dado o elevado valor patrimonial, acções de restauro deste tipo devem ser feitas com o intuito de conservar esse mesmo património e nunca para lhe retirar o valor. Por essa mesma razão esta descaracterização com a introdução duma litologia que nunca existiu em Coimbra até ao séc.XX é no mínimo chocante.
“A questão da segurança não se aplica.”
A razão apontada pela Câmara Municipal de Coimbra para estas obras na Alta foi a segurança dos transeuntes. No entanto o geólogo e investigador entende que a não correcção do declive das escadas, a remoção do calcário picotado e o uso de granito liso com arestas cortantes não pode nunca ser sinónimo de segurança.
“Este projeto é secreto.”
Pedro Proença e Cunha refere que não existe acesso aos detalhes e pareceres deste projeto. Não existe evidência do Pedido de Autorização de Trabalhos Arqueológicos (PATA), não se sabe que trabalhos prévios foram feitos para detetar o que está em profundidade e não se conhece o parecer da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) nem do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS) da UNESCO. Tem sido várias as tentativas para conseguir obter detalhes e documentação do projecto mas até à data nada é conhecido.
Uma vez que os danos na escadaria do Quebra Costas são já irreversíveis, Pedro Proença e Cunha apela que a autarquia não arranque a calçada de feição medieval no Largo da Sé Velha e pare para repensar a obra, abrindo um período para discussão pública. Acrescenta ainda que a população de Coimbra e todos os que por aqui passaram precisam ser devidamente informados para que possam formar a sua opinião e intervir.
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