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Rita Marnoto: “Camões, um poeta que nos agrega”

No dia de Portugal, Camões foi o grande destaque do espaço de comentário do Observatório. Celebram-se os 441 anos da morte de um poeta, de um dos maiores símbolos da nação e de um homem que viveu sempre intensamente e muito à frente do seu tempo.

Rita Marnoto, professora catedrática da Faculdade Letras da Universidade de Coimbra, especialista em literatura e comissária do Programa das comemorações dos 500 anos de Camões, foi a responsável pelo comentário do Observatório de quinta-feira, dia 10, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

“Camões distingue-se de outros poetas porque tem experiência de mundo”

A professora defende que Camões se diferencia de outros poetas seus contemporâneos porque, tendo tido uma vida muito rica (desde as paragens do Oriente, a uma peregrinação pela costa de África até à India, com passagens pela Ásia e Moçambique), o que ele “diz em palavras poéticas é história de uma experiência muito sua e muito avançada para o tempo”. Ao ter conseguido materializar essa experiência em conhecimento, o poeta português coloca-se à frente dos seus pares e por isso podemos considerá-lo “poeta de vanguarda para o seu tempo”. Portugal fez  de Camões o seu símbolo nacional, símbolo duma história e duma atualidade que coloca este país aparentemente periférico em todos os cantos do mundo.

“Camões é um poeta de todos os tempos”

Rita Marnoto afirma que quando “Camões falava do seu tempo, Camões fala também do nosso tempo”, dando assim ênfase a universalidade do autor que era um poeta do século XVI, mas que  é também poeta do século XXI. Para a comentadora, há muitas leituras de Camões, nenhuma definitiva, e essa não definição é o que nos deve dar orgulho de nos podermos encontrar de várias maneiras em torno de um “poeta que nos agrega”. Um poeta universal que se torna diferente para cada tempo, cada época e cada leitor.

“Camões é o poeta da inclusividade”

A professora destacou a vertente evoluída de Camões chamando a atenção para o protótipo de mulher que era cantada no seu tempo: loura, olhos claros e pele clara. “Camões é o primeiro poeta que diz que esse protótipo tem de ser desconstruído”, refere Rita Marnoto, que relata a paixão do poeta português por Bárbora, mulher negra e escrava, aludindo aos seus versos:

“Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.”

Para a especialista em literatura, Camões foi eleito como principal figura de Portugal obviamente por ser um grande poeta mas também porque os portugueses se souberam reconhecer nele. A professora define o poeta português como “um homem aberto ao mundo, à peregrinação e a realidades inovadoras que soube trazer para a poesia”.

“Todas as populações têm necessidade de se identificar com alguém. Os portugueses escolheram Camões.”

Uma viagem pela nossa história, pela nossa literatura e pela essência  de um homem, de nome Luís Vaz de Camões que pela sua generosidade, genialidade e grandeza, vive também em cada um de nós e “faz parte do nosso ADN comunitário”.

Para ouvir a o comentário na íntegra basta aceder acima ao serviço de podcasts RUC ou à plataforma Spotify.

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