Carta aberta à DGPC procura respostas sobre o Quebra-Costas
Alguns conimbricenses continuam à procura de esclarecimentos quanto às intervenções de reabilitação no Quebra Costas e na Sé Velha.
Continua a correr tinta sobre o granito das novas escadas do quebra costas, desta vez na forma de uma carta aberta à DGPC – a Direcção Geral do Património Cultural – subscrita por mais de 200 Conimbricenses e que procura esclarecimentos quanto às intervenções em curso na escadaria e no largo da Sé Velha. A RUC falou com Isabel Anjinho, proponente de uma carta aberta à Direcção Geral do Património Cultural, para entender quais as questões em aberto.
Aos microfones da RUC Isabel Anjinho procurou esclarecer quais os objectivos desta acção, que procura mais transparência quanto às obras na Alta de Coimbra.
O pedido à DGPC ecoa as críticas de falta de transparência e de acesso aos detalhes dos projetos em curso que vários vereadores da Câmara Municipal já colocaram. Para Isabel Anjinho, arquiteta de profissão mas também licenciada em Engenharia Civil na área de reabilitação, é preciso tornar públicas todos as obras desta natureza, pela relevância que têm para a população.
Nas obras do Quebra Costas, a arquiteta mostra uma preocupação com a Cloaca Máxima, o sistema de saneamento romano que permanece debaixo da escadaria e que detém a classificação de património mundial. No entender de Isabel Anjinho, não é claro que as devidas precauções estejam a ser tomadas para a preservação deste bem histórico.
O valor das escadas não é apenas arqueológico, ressalva a entrevistada, sendo também preciso ter em atenção o envolvimento cultural do local e as figuras e eventos históricos que por elas passaram. Evocando primeiro uma visita de D. Pedro, imperador do Brasil, que ouvindo falar das escadas as desceu “com imensas precauções”, Isabel Anjinho revisita as palavras de Almeida Garrett ao pronunciar-se sobre a escadaria.
A solução poderia passar por uma reabilitação parcial, mantendo apenas alguns dos degraus no calcário original e abrindo as portas para incluir instalações educativas que preservassem a relevância histórica e cultural do local.
Também na intervenção junto à Sé Velha há potenciais problemas, que no entender da arquiteta começam na falta de cuidado e preparação das intervenções atualmente em curso.
A necrópole existente nas imediações da Sé Velha fica então em perigo, não só pelos trabalhos a serem realizados, mas pelas características químicas do granito, que na opinião da especialista levam a um desgaste acelerado dos corpos lá enterrados.
No decorrer da entrevista, Isabel Anjinho apontou sempre para um cumprimento das diretrizes da Carta de Veneza, documento que rege a restauração e restauro de monumentos e sítios, que no seu entender não está a ser cumprida. A iniciativa junto da DGPC surge então como um direito a exercer para preservar os interesses dos cidadãos de Coimbra.
A carta endereçada à DGPC ainda não obteve resposta, que deverá demorar entre 15 a 30 dias a chegar. Caso a resposta do serviço central não chegue ou seja deficiente, Isabel Anjinho está preparada para abrir uma queixa junto das autoridades competentes, neste caso a Provedora da Justiça.
Uma entrevista que continua a cobertura da RUC à reabilitação das escadas do Quebra Costas e praça da Sé Velha, que pode ser ouvida na íntegra em formato podcast.
Fotografia: Associação Portuguesa de Geólogos