Paulo Peixoto: “Precisamos de Cultura, de Praça e de Sol”
Um ano de UC em pandemia, os receios para o próximo ano lectivo e a saúde mental da comunidade estudantil foram os temas abordados pelo Provedor do Estudante no comentário do Observatório.
O programa do dia 24 de Maio contou com a presença de Paulo Peixoto, sociólogo e atual Provedor do Estudante na Universidade de Coimbra (UC).
“Não esperávamos ter de enfrentar outro ano lectivo nestas condições”
O balanço do ano lectivo que agora termina não é, no entender do provedor, um balaço negativo, mas para Paulo Peixoto está longe de ser um ano positivo. Entre alguns pontos positivos apontados está a gestão da UC, com um ano difícil mas que conseguiu manter a Universidade em funcionamento. Do outro lado da moeda, para o sociólogo, estão particularmente as avaliações, que não se souberam adaptar para uma nova realidade de universidade a distância.
O regime híbrido de ensino funcionou, até ao momento, para a transmissão de conhecimento, mas para o comentador a capacidade de avaliar os alunos ficou para trás. De igual modo, esta mistura presencial/remota também trouxe dificuldades para os alunos de fora da cidade, que ficaram num limbo entre permanecer com a família em eventual contenção de despesas, ou voltar para Coimbra e assistir a parte das aulas do seu quarto.
“As queixas relativas a acção social não aumentaram, pelo contrário, diminuíram ligeiramente”
Contrariamente ao que estava à espera, no seu trabalho enquanto provedor, e já voltando ao primeiro confinamento da primavera passada, o número de alunos com queixas relativas à acção social foi inferior ao esperado. Por um lado, Paulo Peixoto defende um difícil trabalho de adaptação dos Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (SASUC) que acabou por dar frutos ao mitigar os efeitos da pandemia. Por outro lado, o número reduzido de estudantes a frequentar esses mesmos serviços deve ser igualmente tido em conta nesta análise.
O verdadeiro teste, diz o provedor, está para vir no ano lectivo de 2021/2022, com o retorno da maior parte da comunidade estudantil. Só aí, com o aumentar da pressão e dos utentes dos SASUC, é que realmente se poderá avaliar a resposta da acção social e a sua capacidade de manter o serviço de qualidade que tem demonstrado.
“O agravamento da saúde mental é preocupante”
Transversalmente à conversa, a deterioração da saúde mental da comunidade estudantil foi-se fazendo presente. Uma experiência académica cortada em metade, com um ano sem oportunidades de convívio ou qualquer experiência fora de uma sala de Zoom é, para Paulo Peixoto, um catalisador para problemas cada vez piores ao nível da saúde mental.
Na sua experiência, a resposta da UC tem sido positiva neste aspeto, aliando-se a entidades já existentes como a SOS Estudante, para dar cobro às necessidades de apoio dos seus alunos. No entanto, embora até ao momento a UC não tenha sofrido tanto como outras congéneres na Europa, continua a ser um problema que depende em grande parte da capacidade de cada um em aceitar a ajuda que lhe é dado, o que nem sempre é possível.
No lento desconfinar que agora vivemos, Paulo Peixoto deixa claro que precisamos cada vez mais de ser capazes de “voltar à rua, voltar ao sol e voltar à Praça”.
A entrevista na integra pode ser escutada no nosso serviço de Podcast ou então no Spotify (Observatório).