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Maria do Rosário Pericão: “Foram tempos absolutamente fantásticos. [Abril de 1974]”

A história em primeira mão de quem viveu o antes, o durante e o depois de 25 de Abril. As eleições livres de Humberto Delgado, a crise estudantil de 1969 e um Abril de 1974 que trouxe sonhos mas também muita incerteza. Um Observatório especial com sabor a Liberdade.

O Observatório de sexta-feira, dia 23 de abril, contou com a participação de Maria do Rosário Pericão. Licenciada em Geografia pela Universidade de Coimbra e habilitada com o Curso de Bibliotecário-Arquivista pela Faculdade de Letras da UC. Após concurso público nacional foi destacada, a partir de 23 de Maio de 1975, para exercer funções como Bibliotecária responsável da Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), cargo que assegurou durante 33 anos.

A base familiar foi essencial.

Maria do Rosário Pericão nasceu numa aldeia perto de Aveiro mas viveu toda a sua vida em Coimbra. Uma infância e adolescência num Portugal oprimido e privado de liberdades básicas. Foi no seio familiar, em conversas de pais e filhas que foi assimilando uma visão clara do que era o país e desenvolvendo as suas opiniões e o seu espírito critico.

A crise de 1969.

“Vivi a crise de 69 com todas as minhas forças e ganas”. Foram estas as palavras usadas por Maria do Rosário Pericão para descrever a experiência pela qual passou durante a crise estudantil, que na sua opinião, a par com o 25 de Abril foram as “duas maiores alegrias do ponto vista colectivo” que teve. Relembra o companheirismo, a solidariedade, a capacidade de luta. As Assembleias Magnas, os concertos de canções de protesto, a greve aos exames e o perder de um ano que no final não foi perdido.

Um Abril que se cumpriu.

No dia 25 de Abril de 1974, Maria do Rosário Pericão estava a trabalhar na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra quando o responsável da sua secção anunciou que havia uma revolução a decorrer em Lisboa. As informações via rádio demoravam e a incerteza crescia sem saber de que lado era a revolução e teria ou não sucesso. Recorda a ansiedade e dispersão que sentiu durante este dia e da incapacidade de continuar o trabalho e manter a concentração. O descanso chegou quando já em casa no telejornal da noite ouviu o comunicado da Junta de Salvação Nacional. Um Abril que na sua opinião se cumpriu. As eleições livres, a criação de partidos políticos, o voto das mulheres e a expressão livre e liberdade de reunião. A libertação de um país profundamente amarrado e subdesenvolvido.

Um Portugal ainda à espera.

Na opinião de Maria do Rosário Pericão, a escola e os próprios pais não souberam transmitir às novas gerações o que era o regime anterior e que a liberdade e a democracia não são coisas adquiridos para todo o sempre. Nada está garantido. Acrescentou ainda que sente que os jovens de hoje são pouco participativos e com pouca consciência politica.

Abril cumpriu-se mas não na sua totalidade. As desigualdades em Portugal continuam acentuar-se, a pobreza cresce, a habitação continua a não ser um direito de todos. Apesar disso, Maria do Rosário Pericão assume-se como “uma mulher de esperança e otimista” e acredita que ainda terá oportunidade de ver Portugal evoluir um pouco mais.

Pode ouvir o programa na integra no Spotify ou através do serviço de podcasts RUC.

 

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