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21.04.2021POR Tomás Cunha

Plano de atividades domina numa Magna das “antigas” com 5 horas de discussão

Assembleia Magna interrompida pela chuva e pelo Estado de Emergência. Trabalhos não foram concluídos e acabaram com presidente da Mesa a falar para os estudantes sem recurso a microfone. Discussão do plano de atividades dominou Assembleia.

O campo de Santa Cruz recebeu a primeira Assembleia Magna de 2021.  Esperava-se uma Assembleia Magna longa, quente e com muita discussão. Sem surpresa, percebeu-se rapidamente que a ordem de trabalhos não seria cumprida face ao elevado número de intervenções.  Da ordem de trabalhos ficaram por discutir  a aprovação do Regulamento Eleitoral do Conselho Fiscal e da Comissão Disciplinar. Por seu turno, deu-se a apresentação e votação do Relatório e Contas de 2020, do plano de atividades e do plano orçamental de 2021 da DG/AAC e por fim, várias moções de cariz político.

A pandemia não afastou os estudantes, verificando-se um quórum inicial de 213 pessoas que se instalaram na zona envolvente ao campo de Futsal, junto ao Bar do Santa Cruz. O presidente da Direção Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), João Assunção abriu as “hostilidades” pouco depois das 18:30 e fez um resumo dos últimos quatro meses de mandato. O protocolo entre a Casa mãe e o Organismo Autónomo de Futebol da AAC, o impacto do prémio Manuel Alegre e as diversas atividades realizadas pela DG/AAC nos últimos meses foram alvo de registo por parte de João Assunção.  No final da intervenção, o jurista  e presidente da Direção Geral da Académica deixou uma palavra de homenagem a vários academistas que faleceram nos últimos meses: João Bigote, antigo presidente da Secção de Basquetebol, Nuno Assis, antigo tesoureiro da secção de Secção de Pesca Desportiva da Académica e Jorge Condorcet, antigo sócio nº1 da AAC/OAF. 

Antigo administrador da DG/AAC apresentou as contas de 2020

O primeiro ponto de real interesse desta Assembleia Magna deu-se com a intervenção de João Gonçalo, antigo administrador da DG/AAC. O antigo dirigente da Associação Académica apresentou o relatório de Contas de 2020, enumerando vários pontos: a diminuição significativa de receitas devido ao atual contexto de pandemia; a requalificação do Jorge Anjinho; e ainda a diminuição da dívida externa da AAC. No que toca à dívida interna relativa ao Conselho Desportivo, não houve indicação relativamente ao montante em dívida. 

O Jorge Anjinho foi mesmo um dos temas centrais na primeira hora de emissão. João Assunção explicou os moldes do negócio que envolveu o OAF e a AAC.  A Académica / OAF arrendou o espaço por 25 anos por um custo de 35 mil euros. Nos primeiros sete anos a DG/AAC está isenta de pagamento, valor equivalente ao que a Direção Geral investiu na requalificação do edifício. 

Quer João Gonçalo, quer João Assunção foram obrigados a responder a várias questões por parte dos estudantes: os valores relativos à tomada de posse da DG/AAC em 2020, do Campismo e da futura gestão do Jorge Anjinho levantaram dúvidas ao auditório. Apesar de tudo, o documento foi aprovado por larga maioria quando o relógio marcava 19:16.

Plano de atividade gerou muita discussão: “A AAC é a AAC, não é a CIA”

Diogo Vale, candidato derrotado nas eleições para a DG/AAC em 2019 e 2020 frente a Daniel Azenha e João Assunção respetivamente abordou várias questões relativamente  ao plano de atividades da atual equipa liderada por João Assunção.  O ponto intitulado “Política Global” foi muito criticado por parte do estudante de Medicina. No documento apresentado pela direção pode-se ler que a AAC deve ter “um papel fundamental na discussão e adoção de medidas comunitárias que assegurem a preservação dos direitos humanos e das sociedades democráticas no seio da União Europeia”. Diogo Vale recusou esta visão e procurou com algum humor demonstrar a sua posição: “A AAC é a AAC, não é a CIA”.  João Assunção recusou a visão defendida por Vale, mostrando-se defensor de uma ideia de uma Académica global pronta para uma luta internacional: “Se fecharem uma Universidade por protestos ou se prenderem estudantes em Espanha ou em Itália, a Associação Académica deve estar ao lado dos estudantes”, frisou João Assunção.

A Académica não é apenas um sindicato estudantil

A reivindicação por mais luta nas ruas foi outro dos temas centrais da Magna. A estudante de Direito, Ghyovana Carvalho pediu mais intervenção da Académica neste âmbito e recordou o último dia do estudante como exemplo a seguir. Queremos ir à luta. 24 de março foi um exemplo da história da nossa Académica”. João Assunção respondeu a Ghyovana Carvalho e explicou que não há propriamente um distanciamento de posições entre a DG/AAC e as posições defendidas pela estudante de direito. No entanto, João Assunção recusou a ideia que a Académica é um mero sindicato estudantil. “Queremos ser mais”, afirmou o presidente da DG/AAC. O presidente da maior associação de estudantes do país lembrou que a AAC “é (e tem de ser)” uma estrutura de proximidade para com a cidade. Nesse sentido, lembrou várias das atividades levadas a cabo pela DG/AAC nos últimos meses no sentido de desenvolver uma ligação mais forte com o resto da cidade.

Prémio Literário Manuel Alegre gerou discordância

João Assunção enalteceu o número de inscritos no Prémio Literário Manuel Alegre logo no arranque da Assembleia Magna, mas houve quem não ficasse convencido.  Gonçalo Lopes, estudante da FDUC, colocou em causa a cedência dos direitos de autor da obra vencedora do prémio à AAC, considerando que a Académica não se pode comportar como se fosse a “Porto Editora”. João Assunção lembrou que o prémio tem custos para a Associação e relembrou que se trata de um processo normal neste tipo de atividades.

Pinto Ângelo pede prato social nas amarelas

Se Ghyovana Carvalho pediu mais intervenção da AAC nas ruas, João Pinto Ângelo exigiu o prato social nas cantinas amarelas e recordou as várias promessas nos últimos anos relativamente a este dossier.  “Não há resposta em relação às cantinas”, afirmou Pinto Ângelo. O estudante de Direito deixou ainda uma questão no ar: “o que é que vão fazer em relação ao prato social nas cantinas amarelas e nas verdes?”. João Assunção voltou ao púlpito e deixou um desejo: “espero ver cumprida a promessa do prato social nas amarelas quando se registar o aumento da exigência deste prato pelos estudantes”.

Crise de 69 gerou discussão

Numa longa intervenção, António  Pereira, estudante da FCTUC, deixou várias questões relativas à administração do património, em concreto da requalificação da sede do edifício da AAC.  António Pereira abordou questões relativas ao acesso à habitação e falou sobre as questões das repúblicas. No final da sua intervenção, abordou o tema “17 de abril”. “Dá me muita comichão” ver o texto da organização do evento “abril sempre”, afirmou o estudante da FCTUC: “há mais além da crise académica de 1969”, prosseguiu António Pereira.  Para João Assunção há uma correlação direta entre a crise de 1969 e os princípios de abril, sendo necessário enaltecer a ligação entre abril de 69 e abril de 74. Relativamente à Plataforma juvenil distrital, João Assunção explicou que o objetivo é precisamente aproximar a AAC aos estudantes de ensino secundário. A intervenção de João Assunção não matou o assunto. Diogo Vale voltou à carga e admitiu que há ideias que o inquietam. O estudante de medicina acusou a AAC de ter uma atitude paternalista junto das associações de estudantes, passando um atestado de incompetência a estas organizações. A resposta não tardou: a plataforma digital é um projeto de cooperação e não de imposição, afirmou João Assunção.

A votação do plano orçamental causou discussão

Durante toda a Magna a utilização da expressão “cerca de” para contabilizar os votos suscitou descontentamento durante as votações. O ponto mais quente deu-se na votação do plano orçamental onde se verificaram 19 votos contra, 50 abstenções e 73 votos a favor.  A rapidez na contagem dos votos favoráveis causou a ira de alguns associados, nomeadamente de Liliana Pinho, membro do Conselho Fiscal. João Lincho explicou que a Mesa da Assembleia Magna estava a recorrer ao método da “subtração” e que seria impossível contar voto a voto. A discussão aqueceu, tendo-se verificado trocas de acusações entre João Lincho e Duarte Dias. As explicações do presidente da Mesa não convenceram o auditório e Duarte Dias voltou a subir ao púlpito depois de João Lincho ter afirmado que sabia fazer contas porque estudava Engenharia.  “Ganha juizinho”, respondeu Duarte Dias. O ambiente estava quente e sucederam-se as intervenções. Mateus Rosário, presidente do Núcleo de Estudantes da Faculdade de Direito,  pediu “mais debate e “menos discussão”. Ghyovana Carvalho fez o mesmo, mas não poupou críticas à atitude do presidente da Mesa da Assembleia Magna.

Alargamento da Magna até às 23 gerou polémica.

O plano de contingência anunciado pela Mesa da Assembleia Magna previa a conclusão da mesma às 21:00. João Assunção pediu o alargamento do debate e rapidamente se ouviram críticas por parte da plateia. Depois de ter ido a púlpito criticar o não cumprimento do plano de contingência da Assembleia Magna, Liliana Pinto “voltou à carga” e interpelou a Mesa por causa do incumprimento do plano de contingência. Devido às regras impostas pelo Estado de Emergência a Assembleia só podia decorrer até às 23:00, hora em que o campo de Santa Cruz teria necessariamente de encerrar. Nesse sentido, João Assunção pediu a alteração da agenda desta Magna. O auditório aqueceu e sucederam-se respostas e contra respostas de Liliana Pinho à posição de João Assunção. O presidente da DG/AAC escudou-se na lei e recordou que as normas da Direção Geral de Saúde imponham o fim da Magna às 23:00. Apesar da polémica, a votação mostrou-se favorável ao desejo da DG/AAC verificando-se 46 votos contra e  93 votos a favor.

Planos para o dia 28 de abril foram alvo de alteração

A DG/AAC tinha como intuito marcar uma manifestação nos jardins da AAC para o dia 28 de abril pelas 11:00. Matilde Ferreira criticou o plano e considerou que a AAC deveria ser mais ambiciosa. Diogo Vale pediu mais à DG/AAC e sugeriu uma mobilização dos estudantes de Coimbra até Lisboa, mais concretamente até à porta da Assembleia da República (AR). João Assunção recusou a proposta e explicou porquê: “Foi acordado entre as Associações e as federações académicas que as manifestações decorrem no âmbito local de cada Universidade”. De seguida,  Matilde Ferreira subiu ao púlpito e sugeriu alterações ao plano para o dia 28 de abril. Dessa forma,  foi votado um plano para uma mobilização para uma hora mais tardia (18:00), que começasse  na Porta Férrea e terminasse nos jardins da AAC. Foi ainda anunciada e votada a participação por parte da Académica nas ações comemorativas do 25 de abril e na manifestação intersindical da CGTP no dia 1 de maio.

Chuva e Estado de Emergência trocaram as voltas à Mesa da Assembleia Magna

Com muitas cadeiras vazias e com um clima claro de impaciência o final da Magna foi marcado pela queda de chuva. Por causa do elevado risco de curto circuito as equipas da TV AAC e da Rádio Universidade de Coimbra foram obrigadas a arrumar o material, deixando a Magna sem qualquer tipo de sistema de som. João Lincho e João Assunção acabaram a discursar sem apoio sonoro, o que dificultou muito a tarefa para quem ouvia.  A chuva, o elevado número de participações e o Estado de Emergência levaram a que dois pontos ficassem por discutir,  entre os quais o Regulamento Eleitoral do Conselho Fiscal e Comissão Disciplinar e outros assuntos. Estes dois pontos vão ser discutidos na próxima Assembleia Magna.

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