Marisa Matias: As vacinas contra a COVID-19 têm sido “Um fracasso para a Solidariedade”
O programa Observatório de dia 15 de fevereiro contou com a eurodeputada, Marisa Matias, no comentário à atualidade. E foi de Europa que se falou no dia em que a Universidade de Coimbra promoveu o debate “Desafios da Presidência Portuguesa da União Europeia”.
A eurodeputada eleita pelo Bloco de Esquerda tem sido bastante crítica sobre os contratos que a União Europeia firmou com as empresas farmacêuticas para aquisição de vacinas. No limite Marisa Matias já defendeu a abertura pública das patentes para que a produção possa ser alargada a mais empresas ou até a laboratórios estatais.
Consciente de que o processo de investigação para a descoberta de novas vacinas para minorar o efeito da COVID-19 tem sido executado em tempo “record”, afirmou que “não há história de que uma outra vacina tenha sido desenvolvida em tão pouco tempo”.
Salvaguardou, no entanto, que esse esforço da comunidade científica foi feito depois de uma articulação sem precedente do lado da União Europeia e dos diferentes países, “que do ponto de vista da organização do financiamento trabalharam como nunca tinham trabalhado antes” . As instituições europeias conseguiram juntar 9,8 mil milhão de euros para financiar de forma direta a investigação e a aprovação da vacina, esclareceu. “Todo esse dinheiro público foi fundamental para que a vacina fosse desenvolvida”, mas, no entanto os contratos assinados pela Comissão Europeia deixam a patente “totalmente do lado privado”, pelo que “mais uma vez” se assiste a uma “parceria público-privada em que o investimento é publico e os lucros são privados”, lamentou.
Sem deixar de assinalar o investimento e do conhecimento acumulado por parte das empresas farmacêuticas mas a investigação das vacinas, nomeadamente em relação ao RNA, dura há mais de 20 anos e muita dele foi obtida com bolsas públicas e dinheiros públicos, “pelo que o mais equilibrado seria “termos uma patente aberta”, uma vez que a situação é de urgência e afeta não só a União Europeia mas o mundo inteiro. A eurodeputada afirmou estar em linha com o que disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, de que este processo está a ser um “sucesso para a ciência mas um fracasso para a solidariedade”.
O comentário finalizou com a necessidade de Paulo que o Parlamento Europeu expressou de apelar a que seja feito um inquérito independente à detenção de Paul Rusesabagina, o antigo gerente que inspirou o filme “Hotel Ruanda” sobre o genocídio de 1994 e que deu abrigo e salvou 1265 tutsis e hutus durante o genocídio, e que foi detido no Dubai e extraditado para Kigali no Ruanda, “em condições muito pouco claras”. De acordo com a eurodeputada, Paulo Rusesabagina, já morava na Bélgica e por isso tinha cidadania europeia.
A conversa passou ainda pelo atraso ou não da Bazuca, pela redistribuição dos programas que estavam sub-executados para atacar a situação de emergência e pela resposta dos países à crise pandémica.
Pode voltar a ouvir o comentário no Spotify da Rádio Universidade de Coimbra.