“Sempre no ar, se você doar”: Queremos continuar
Na RUC queremos tudo. Nós queremos ser diferentes, queremos discutir, queremos descobrir coisas novas, queremos ser um vulcão a fervilhar e que a qualquer momento pode entrar em erupção, queremos fazer o que nos apetecer, queremos ser livres. E não é isto bonito?
Começo pelo fim porque o texto vai ser longo e já sei que quando acabar este parágrafo a maioria dos que abriram o separador já desistiram de ler. Queremos dinheiro e começámos um crowdfunding. Porquê? Os apoios são escassos, o material é velho e é cada vez mais difícil fazer (e ensinar a fazer) rádio. Sermos parte de uma estrutura da dimensão da Associação Académica de Coimbra veda-nos o acesso à maioria dos apoios que recebem outras instituições da cidade e órgãos de comunicação social. Os nossos principais parceiros apoiam-nos com incentivos a atividades (a que nos candidatamos sempre) que não servem as necessidades do dia-a-dia. Os 30.000€ que pedimos servem para requalificar os estúdios, renovar o parque informático e o material que usamos para emissões de exteriores. Em breve apresentaremos um orçamento em que está tudo discriminado. O importante é que o risco de acabar é real. Não vivemos de boas intenções, até porque dessas está o inferno cheio. O link para nos apoiarem é este: ppl.pt/causas/ruc. E agora vocês perguntam-nos: “A RUC é assim tão importante? Para que é que devo apoiá-la?”. Bem, peço desde já desculpa, mas para terem a resposta a essas perguntas vão mesmo ter de ler o resto do texto.
Como se explica a RUC? É colocar “quem quer” a pintar um quadro para o mundo ver
Imagine-se que o silêncio é uma tela em branco. Mas uma tela que tem de ser pintada a cada segundo: quem a olha nunca a pode apanhar em branco, pese embora que aquilo que nela é pintado nunca perdure no tempo. Quase como se estivesse a ser desenhada com tinta invisível. Vemos o quadro a ser pintado, percebemos o que se pinta, mas, mal o pincel passa, deixamos de ver o que quer que seja. É preciso pintar mais. Agora, imagine-se, esta tela é colocada num museu, à frente de toda a cidade, que a pode ver, julgar, apreciar. Quem chamavam para cobrir esta tela? Um grupo de criativos talvez, artistas de renome internacional. Quem confiaria esta montra a alguém que não estivesse sempre o mais perto possível da perfeição? Seria uma irresponsabilidade, de certeza que quem quer que a tenha colocado à vista de todos a tiraria imediatamente do local onde estivesse exposta. Então, como se explica a Rádio Universidade de Coimbra?
Na RUC, os criativos são os que querem. Não são necessariamente os novos, os estudantes, os jovens. São os que querem. Numa cidade como Coimbra é normal que quem frequenta a Universidade seja o cerne desta tela montada em terreno académico. Aliás, faz até sentido que a Universidade, o local onde se quer a discussão viva e o conhecimento a ser alimentado, seja a maternidade destes criativos. Ou que seja por serem criativos que os tais artistas vêm parar à Universidade. Seja como for, façam os criativos a Universidade ou a Universidade os criativos: em Coimbra há quem tenha mesmo muita vontade de pintar a tela (e não são só os estudantes). Mas vão pintar o quê? Estes, que têm tanta vontade e que aparecem da Universidade, que querem ser vanguarda, pintam a tela como tantos outros a pintam? Pintar um quadro igual não se coaduna com o espírito destes criativos. Na RUC queremos tudo. Queremos pintar. Queremos fazer bem e aprender, mas não queremos que venha alguém dizer que assim não se faz porque assim o público não gosta. Nós queremos ser diferentes, queremos discutir, queremos descobrir coisas novas, queremos ser um vulcão a fervilhar e que a qualquer momento pode entrar em erupção, queremos usar todas as cores, texturas ou materiais, queremos fazer o que nos apetecer, queremos ser livres. E não é isto bonito?
Somos laboratório a céu aberto. “O ouvinte vê o melhor e o pior a ser experimentado à sua frente […] É um privilégio”
Até agora, foram (quase) 39 anos de sucesso. E o sucesso não se mede com audiências, gráficos bonitos ou balanços de tesouraria. Às vezes dizem-nos que sim, mas não nos deixamos enganar. O sucesso mede-se pela discussão gerada, pelas vidas tocadas, pelos horizontes que foram abertos. E foram (e são!) tantos. Estamos sempre expostos, todos nos podem ver. Veem as coisas boas e as coisas más. As nossas falhas, os nossos erros. Noutro sítio qualquer seria um problema grave, aqui é aprendizagem. Para nós e para o ouvinte, que vê o melhor e o pior a ser experimentado à sua frente, na sua forma mais pura. É um privilégio. Suscitamos o debate, abrimos a mente, somos agitadores culturais de Coimbra. É por isso que nos devem apoiar.