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NO BONS SONS 2024 A MÚSICA E A LIBERDADE PASSARAM POR AQUI

Depois de a aldeia de Cem Soldos ter fechado portas em 2023 devido a obras, foi novamente com renovada emoção que voltamos ao Bons Sons para viver a música portuguesa. Por o pé naquela casa cria em nós a vontade imensa de nos voltarmos a misturar com aquele povo que tão bem nos recebe.

Rescaldo do Bons Sons no Santos da Casa de 15 de agosto

Antevisão do Bons Sons no Santos da Casa de 1 de agosto com entrevista a Miguel Atalaia

 

Foram quatro dias intensos em que provamos mais uma vez que a produção nacional está de boa saúde e recomenda-se.
Do rock ao tradicional, passando pela pop ou eletrónica, o Bons Sons abre portas a todos os estilos, trazendo ao palco velhas glórias e artistas mais emergentes.
Mas este festival, que é pensado para toda a família, não se limita a oferecer música, tendo uma programação diversa que abrange muitas outras atividades. Aqui não se pode estar parado, mesmo que o calor quase nos obrigue. E como sempre suamos muito, na tentativa de não perder pitada. Assistimos a todos os concertos, vimos grandes momentos, atuações que vão ficar na memória, num festival que é já uma referência segura, tendo os dois últimos dias esgotado, com muita gente a circular por ali.
Ouve tanto para ver, tanto para ouvir, tanto para fazer, que regressamos de coração cheio.

Mas o que mais importa aqui é mesmo a música, por isso vamos viver a aldeia, saltando alegremente de palco em palco, mostrando que vale mesmo a pena ir a Cem Soldos em agosto. E que, apesar de obviamente umas atuações serem melhores que outras, não nos fica na memória um mau concerto para relatar.

 

1º Dia – 8 de agosto

Como sempre o festival começou na igreja local, no palco Carlos Paredes, com a guitarra acústica de Manuel Dordio. Foi um momento calmo em que o dedilhar das cordas nos embalou os sentidos e nos transmite uma calma, que combina muito bem com este espaço de oração.
Depois mais abaixo, no palco Giacometti, Femme Falafel, que chegou aqui por ter vencido a edição de 2023 do Festival Termómetro, tentava fintar o calor, oferecendo aos presentes a sua pop descontraída. Tarefa difícil e que só a espaços foi cumprida com sucesso.
Mais ao lado, no palco A Música Portuguesa a Gostar dela Própria, com curadoria de Tiago Pereira e da sua equipa, que este ano ficou na zona onde habitavam os burros, Diana Combo recriou com mestria vários temas de inspiração tradicional. Lançando as bases musicais do seu telemóvel, e tocando alguns instrumentos, Diana foi mostrando algumas das canções que descobriu e pelas quais se apaixonou.
Na zona do Adro, frente à igreja, decorre o espetáculo de dança Kdeiraz, para crianças de todas as idades, de Natália Mendonça, oferecido pelos Materiais Diversos. Aqui duas meninas dançam sempre à volta de cadeiras, criando jogos cénicos, em que mostram o uso abusivo das cadeiras no nosso dia a dia. Uma atuação que flui pouco, faltando um fio condutor, para melhor podermos perceber a sua mensagem.
De regresso ao palco Giacometti, The Twist Connection, vêm de Coimbra, para nos oferecer o primeiro grande momento deste festival. Rock, duro e cru, que teve na entrega total dos músicos o trunfo ganhador. O suor que lhes pingava no rosto provou que esta foi uma atuação ganhadora. O público correspondeu à chamada e num ato solidário, também suou. Nunca desiludem estes rapazes.
O primeiro concerto deste ano no palco Lopes Graça coube aos Zarco, que brindaram os presentes com o seu rock, aqui e ali com algumas canções de raízes mais psicadélicas. Sem nunca explodir em demasia este, contudo, acabou por ser um bom momento, onde apresentaram essencialmente canções dos disco de 2023 “Não Lembra o Diabo”.
Descemos depois, tentando não cair, até ao palco Zeca Afonso, para o concerto teatral Quis Saber Quem Sou, da autoria de Pedro Penim, que tem direção musical de Filipe Sambado. No ano em que se comemoram 50 anos do 25 de abril, este espetáculo traz a cena muitas das canções que fizeram a revolução. Um momento grande, em que música e palavras, nos fizeram sentir, que tudo aquilo que foi dito e cantado, continua, ainda hoje a fazer muito sentido. Um momento inesperado, neste Bons Sons, e que vai ficar, como um dos mais altos deste ano. Foi acima de tudo muito comovente.
Na outra ponta da aldeia, lá no cimo, no palco António Variações, os Ganso atiram-se ao rock, desta vez privilegiando essencialmente o lado mais instrumental das suas criações. Poderá não ter sido esta a melhor opção, no entanto, o grupo, que partilha dois elementos com os Zarco, conseguiu a espaços alguns bons momentos.
O palco Lopes Graça, ganha agora um ar mais kitsch, à conta do cenário criado por Cláudia Pascoal. Concerto divertido, onde Cláudia Pascoal, criou momentos de puro divertimento, que ia misturando com os seus temas, que nos trazem uma pop dançante e colorida. Que mais se pode pedir se estamos ali para nos divertir, não é? Cláudia tratou bem do assunto e por isso saiu vencedora nesta noite.
A fechar a noite, em termos de concertos, Valete levou o seu hip hop ao palco António Variações. Rodeado de muitos convidados, Valete mostrou porque é um dos reis do hip hop nacional. Ficámos felizes de o ver regressar em força aos palcos, pois a sua energia faz falta.
A fechar a noite no palco Aguardela Sheri Vari.

2ª Dia – 9 de agosto

Ao segundo dia, Joana Guerra invade a igreja, palco Carlos Paredes, trazendo sons mais experimentais ao local. Manipulando habilmente o seu violoncelo, Joana terminou de forma inesperada a sua atuação, ao manusear uma guitarra portuguesa quase como se fosse o instrumento que antes tinha tocado. Foi um começo de dia surpreendente.
Lá em baixo no Palco Giacometti, Malva tenta fintar o calor, com a sua música mais acústica. Artista nascida não há muito tempo, e que por isso muitos ainda não conheciam bem, Malva tentou lidar com estas adversidades da melhor maneira possível. Nem sempre foi fácil, mas o balanço final acaba por ser positivo, apesar de por questões de clima a entrega não ter podido ser maior. Fica a vontade de a voltar a ver num espaço mais acolhedor.
Depois a viagem foi até Trás-os-Montes, por culpa das meninas Ambria Ardena (expressão transmontana para “fome ardente”), que no palco A Música Portuguesa a Gostar dela Própria, recriaram a tradição daquelas terras. Recriação não só musical, mas do próprio linguajar, com que iam contando histórias bem divertidas. Foi lindo este passeio…
Frente à igreja, no Adro, há ritmos de dança, muito ligados ao hip hop. As Krump Sessions que se iniciaram em 2006/2007, em Lisboa, na Gare do Oriente, vieram agora a Cem Soldos mostrar  um trabalho coreográfico, que nasceu entre as comunidades negras dos Estados Unidos, e que agora é replicado em Portugal. Só pecou pelo fato de ter sido muito repetitivo, sendo que se o espetáculo tivesse durado um pouco menos teria ganho, com certeza. Mais uma vez, a curadoria aqui foi da Materiais Diversos.
No palco Giacometti, Rodrigo, não para quieto e provoca, no bom sentido, todos. Estavam os Vaiapraia em palco. Ele e mais três meninas, com destaque para Chica e April Marmara. Mandou rock para o ar, cuspiu provocações. Ou se gosta ou não. Mesmo quem não gosta não fica indiferente.
Um pouquito mais abaixo, no palco Zeca Afonso, o projeto liderado por Adolfo Luxúria Canibal, de nome Estilhaços, onde música e poesia se misturam em momentos mais spoken word. A acompanhar como sempre Adolfo, António Rafael, Henrique Fernandes e Jorge Coelho, passaram quase na íntegra o último disco “Estilhaços de Escuridão”, tendo tempo ainda tempo de recuar a “Estilhaços e Cesariny”. Um belo momento para este fim de tarde que começava a ficar menos quente, felizmente.
Sempre a subir até ao palco António Variações, que chegou a hora dos Solar Corona Elektrische Maschine. Quem conhece Solar Corona de outras andanças estaria à espera de um concerto de rock. Puro engano. Este coletivo, formado por Rodrigo Carvalho, José Roberto Gomes, Peter Carvalho e Nuno Loureiro, deixa de lado a bateria e como o nome indica atira-se essencialmente às máquinas. Batida forte de dança, onde o improviso domina.  Som muito minimal, que não consegue agarrar todo o público, que na sua maioria estava a ouvir isto pela primeira vez. A princípio estranha-se depois até se gosta, depois parece que não sai dali. Por isso devem repensar o tempo de duração do concerto.
Saímos da dança direitos ao tradicional alentejano, para escutar no palco Lopes Graça, os veteranos Adiafa. Concerto surpreendente, crivado de belas e divertidas modas alentejanas. Ficaram conhecidos pela faixa ” As Meninas da Ribeira do Sado”, mas conseguiram provar que não é apenas este tema que faz a sua carreira. Assentaram que nem uma luva no cartaz do Bons Sons.
No palco Zeca Afonso, a noite segue com Gisela João a homenagear os 50 anos do 25 de abril. Por isso quem estava à espera de a ver cantar fado, saiu mais triste do concerto. Outros no entanto, logo se renderam à magia das canções da revolução trazidas a cena por Gisela João, que baloiçando de cá para lá, nos tocou de forma hábil o coração. Apenas cantou um tema seu, “Louca”, que como explicou é também uma canção de intervenção. Sem guitarra portuguesa, e em tom mais elétrico, Gisela recriou de forma brilhante vários clássicos que marcaram as nossas canções de protesto, trazendo autores essenciais da luta.
Subindo ao palco Lopes Graça, mais um grupo desconhecido da maioria dos presentes. Do Algarve, os Plasticine trouxeram na bagagem o seu afrobeat. Havendo mais espaço livre entre a assistência, os que quiseram assistir a este concerto tiveram mais espaço para dançar.  A entrega dos músicos foi grande, tendo ficado assim provada a sua qualidade.  Pode ser que depois desta noite a banda ganhe outro reconhecimento.
Para o fim de noite, no palco António Variações, aquele que pode ficar como o melhor concerto do Bons Sons deste ano. Tó Trips e os seu Club Makumba, encheram a eira de forma brilhante com o seu western rock. Um concerto intenso em que não houve tempo para respirar.  Quatro músicos de excelência em palco, com o rock tatuado na pele, apesar de alguns deles virem da área do jazz. Mas o que interessa agora é o presente, foi esta noite, e o que ficou foi o pó no ar levantado pelos corpos numa dança frenética.
No palco Aguardela tempo para os Mão na Anca.

3º Dia 10 de agosto

O terceiro dia  começou de uma forma muito bonita na igreja de Cem Soldos, com Luísa Amaro, num palco que tem o nome de Carlos Paredes, um mestre que fez parte da sua vida. Luísa Amaro, acompanhada de Gonçalo Lopes no clarinete baixo, debitou na sua guitarra portuguesa, temas que aconchegaram os corações de todos os presentes. Pelo meio tempo ainda para contar algumas histórias de Carlos Paredes. E claro alguns temas de Carlos Paredes foram também tocados, tendo terminado a sessão com “Verdes Anos”. Dizer que o Clarinete baixo de Gonçalo Lopes deu o peso certo a estas músicas.
No meio do calor, Velhote do Carmo, “atira” rock aos presentes, no palco Giacometti. Concerto esforçado, que só não saiu perfeito pois o sol não deixou. Mas foi, mesmo assim, um momento, do qual nos vamos recordar, pois foram aqui tocadas algumas belas canções.
Voltando ao palco dos burros, salvo seja, casa da Música Portuguesa a Gostar dela Própria, somos brindados com um dos melhores concertos deste festival, trazido à cena pelo trio Fala Povo Fala. Este é um grupo, composto por Senhor Vulcão, Jacaréu e A Culpa do Joni, três cantautores, que se juntam para criarem novas canções de intervenção. Desde o trajar, às palavras que são soltas, tudo aqui faz sentido. O povo acolheu de braços abertos este outro povo e no fim acabaram todos juntos em festa a cantar e a dançar. Vão ser grandes estes senhores!
Ainda a recuperar do que havíamos acabado de ver, e no Adro, perto de 60 mulheres vindas de Coimbra, começam um momento inesperado. O Coro das Mulheres da Fábrica dava início a um workshop de canto, que levou todos até ao centro da aldeia, para com elas cantarem. No meio dos presentes, estas senhoras (de todas as idades) deram uma lição de canto, de humildade e acima de tudo de liberdade.  Um momento que teve muito de Portugal e alguma coisa de Brasil. Um momento que quase fez saltar uma lágrima do canto do olho. São lindas estas mulheres!
De cima fomos para baixo, ter com emmy Curl, ao palco Giacometti. Aos poucos a música de emmy Curl tem vindo a mudar. Sem perder o seu lado eletrónico, a artistas inspira-se agora nas tradições portuguesas, imprimindo uma batida bem dançável a muitos temas do nosso cancioneiro. Mas claro que não podiam faltar músicas em que a viola acústica impera. Concerto, florido e fruído por todos com grande intensidade. Está cada vez melhor esta menina.
Do meio para baixo, mais para baixo, até à rampa de acesso ao palco Zeca Afonso. Sobem ao palco os Expresso Transatlântico, para nos darem um dos grandes concertos deste festival. Sem medo de o assumirem, esta é uma banda que se inspira nos saudosos Dead Combo. Misturam o western, com o fado, como os seus ídolos, mas com a particularidade de por aqui ouvirmos mesmo uma guitarra portuguesa. Guitarra essa, manuseada por Gaspar Varela, que apesar de ainda ser jovem, é já considerado um dos grandes guitarristas portugueses. Varela acabaria depois a voar sobre o público, numa festa que se fez conjunta. Os Expresso Transatlântico deram um concerto enorme que levou o espaço lotado ao rubro. Todos os corpos envoltos numa dança só.
Já do outro lado, no palco Lopes Graça, Silk Nobre, que conhecemos como vocalista dos Cais Sodré Funk Connection, apresenta em palco temas do seu disco a solo. As raízes africanas são fonte inspiradora da sua música. Som que se cola ao corpo e convida a dançar. Notou-se que muitos dos presentes estavam distantes do trabalho deste senhor, e isso fez com que o concerto tenha perdido algum furor. Mesmo assim, ainda havia alguns a bater o pé.
Voltamos ao palco Zeca Afonso, para ouvir Edmundo Inácio, um nome que muitos retêm apenas da sua participação numa das últimas edições do The Voice e no Festival da Canção. Em começo de carreira, Edmundo Inácio passou em revista temas que ainda são pouco conhecidos. Tudo isto, e apesar da entrega do artista, resultou num concerto morno. Com o rolar dos tempos temos a certeza que isto vai mudar, pois Edmundo consegue construir boas canções.
Já no palco Lopes Graça as canções de intervenção dos Cara de Espelho, um novo grupo feito de grandes estrelas da música portuguesa. Pedro Silva Martins autor das letras e músicas, Carlos Guerreiro, viciado na construção de instrumentos, as guitarras de Luís J Martins, o baixo de Nuno Prata, as percussões de Sérgio Nascimento e a voz de Maria Antónia Mendes. Gente vinda dos Deolinda, Ornatos Violeta, A Naifa, Gaiteiros de Lisboa, entre outros. Canções enormes, de letras certeiras, muitas vezes um pouco difíceis de consumir à primeira audição. Mas temas que quando entram no nosso corpo, se percebe o quão enormes são. Tudo isto fez deste um concerto difícil, mas muito bom. Difícil para quem não conhecia a fundo o seu primeiro disco. Os outros aproveitaram cada minuto e saíram correndo para subir até à eira.
Lá em cima no palco Variações, os Unsafe Space Garden, debitam um som fortemente inspirado por Frank Zappa, que mistura o som com momentos “teatrais” super divertidos. Uma saudável esquizofrenia, que tocou os presentes, que passaram a energia certa para o palco. A banda está num crescendo tendo passado por alguns dos mais importantes festivais nacionais e isso nota-se em palco.
No palco Aguardela a vez para Maria Callapez

4º Dia – 11 de agosto

O último dia levou à igreja Rafael Toral, que menos envolto em máquinas e sozinho, nos brindou com a sua guitarra elétrica, e com ela nos deu alguns temas de cariz mais ambiental. Mais um dos nomes inesperados deste festival, mas que soube muito bem ouvir no início de tarde.
Logo a seguir, no palco Giacometti, o darkwave dos Conferência Inferno não deixou ninguém indiferente. E apesar de o calor ter dado conta de um teclado, a coisa lá se arranjou, e a banda não perdeu o pé e agarrou os presentes, oferecendo a todos um concerto memorável.
Já no palco a Música Portuguesa A Gostar dela Própria, o Coro da Cura vem a terreno, mostrar as canções que o Tiago Pereira e a sua equipa andam a gravar por aí. Com pessoas de todas as idades, este coro veio dizer e provar que a nossa tradição está viva e não pode morrer. E mais uma vez o público reagiu da melhor maneira para abraçar estes grupos.
Quando descemos para o adro a Fanfarra Káustica toma de assalto as ruas da aldeia, fazendo parecer estarmos dentro de um filme de Emir Kusturika. Concerto volante, muito frenético, que nos fez transpirar a todos. De repente, viajamos para outras paragens, e fomos aterrar para os lados da Jugoslávia.
E para não pararmos de dançar, fomos até ao palco Giacometti para ouvir Ana Lua Caiano, naquela que foi a maior enchente junto a este local. Sozinha em palco com as suas máquinas, Ana, debitou canções, que trazem dentro a inspiração da nossa tradição, mas que constrói para que todos as possamos dançar. Com uma popularidade que já saltou a nossa fronteira, Ana Lua Caiano deu um concerto que ficará na memória. Ana Lua Caino está em forma e agora o mundo é dela, e bem o merece, que estas canções são ouro fino. Havia agora que acalmar, e nada melhor que escutar Hélio Morais no palco Zeca Afonso. Hélio, senhor que conhecemos de Linda Martini ou PAUS, apresenta em nome próprio o conjunto de canções mais diferentes de todo o seu reportório. Músicas ainda a desabrocharem e a começarem a ganhar vida. A maioria dos presentes parecia ainda não as conhecer totalmente bem, se bem que uma ou outra canção eram trauteadas por algumas meninas da fila da frente. Hélio Morais mostrou belas canções de uma pop suave, que sem grandes alaridos fizeram deste um concerto bom, mas do qual se poderia esperar um pouco mais.
Agora é que vão ser elas, subir, subir até ao palco Variações para explodir ao som dos Máquina, que mais uma vez não desiludem os presentes. Explosões de rock sónico e noise, numa loucura controlada, aquecem os corpos. São gigantes estes meninos. A entrega é total. Estão nas bocas do mundo, e tudo o que se diz deles é pouco. Mais um dos gigantes concertos deste festival.
Para baixo que é hora de ouvir a voz bonita e serena de Teresa Salgueiro no Palco Zeca Afonso. Sem ter disco novo, Teresa Salgueiro passou em revista grandes temas dos seus discos antigos e tocou também algumas canções alheias. Foi um concerto repousante, feito de canções que passaram rente à nossa pele. Foi gracioso.
De volta ao rock no palco Lopes Graça no último concerto do festival.  Mas um rock que se confunde por vezes com o blues e onde agora as máquinas estão muito mais presentes. Paulo Furtado e seus companheiros encheram o palco e levaram a assistência ao delírio. Longe vão os tempos em que passou sozinho pelo festival. Agora The Legendary Tigerman, com uma máquina muito bem oleada, cospe um rock que nos acerta em cheio. Tempo ainda para a participação num tema de RAY.  Foi um concerto enorme, perfeito, e onde a provocante Sara Badalo transpira sensualidade durante toda a atuação. Outros dos enormes concertos deste festival.
Ainda houve tempo, depois, para ir ao palco António Variações espreitar Rocky Marsiano, que conhecemos como D-Mars, nos Micro, grupo ligado ao hip hop. Já com este nome lançou discos onde cruzava o hip hop e o jazz. Aqui apareceu em formato DJ, fazendo saltar para a pista de dança sons essencialmente de raízes africanas. Poucos estariam à espera de o ver assim.
A dar o último adeus, Surma em formato DJ no palco Aguardela.

O fim…

Se o Bons Sons começou por ser um festival em que a música tradicional e os cantautores dominavam, o que se tem verificado nos tempos mais recentes é que a tradição já não é o que era. E a grande prova está este ano dada, em que os grandes concertos desta edição são de bandas de rock. Está a ganhar novo corpo, o Bons Sons, mas sem perder a sua identidade.
Mais uma vez saímos de alma cheia de Cem Soldos a saber que existe muito boa música portuguesa para ser ouvida.
Foram quatro dias intensos, em que reencontramos uma aldeia renovada e em que voltamos a ver velhos amigos.
Obrigado a todos os que fazem isto acontecer. Aos que vivem em Cem Soldos, aos voluntários que acreditam neste sonho, e a toda a equipa que sempre nos acolhe tão bem.
Ainda falta muito para 2025?  Bolas, falta um ano! Prometemos voltar, com a mesma alegria de sempre. Cansaço? Quem corre por gosto não cansa! Mas transpira…

Texto e Fotos Nuno Ávila

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