Zé Ibarra no Salão Brazil
Zé Ibarra voltou a Coimbra na passada quinta-feira para encher o Salão Brazil e transportá-lo para Marquês, 256 – morada que dá nome ao seu primeiro disco a solo. A equipa do Rua do Brasil embarcou nessa viagem com o cantautor brasileiro e está de volta para partilhar tudo com quem ouve (e lê) a Rádio Universidade de Coimbra.
No passado dia 08 de junho, Zé Ibarra apresentou o seu mais recente trabalho, Marquês, 256, no Salão Brazil. A espera pelo seu retorno a Coimbra não foi longa, já que, em novembro de 2022, partilhou o mesmo palco com Bala Desejo, onde a ele se juntam Dora Morelenbaum, Julia Mestre e Lucas Nunes. Desta vez veio a solo, mais introspectivo e cru, para divulgar este trabalho, que assume ser um prólogo para um álbum de originais, gravado em estúdio, a sair no ano que vem.
Com casa cheia, Zé Ibarra subiu ao palco com Vai atrás da vida que ela te espera, abrindo assim as portas para o imaginário que permeia o disco: gravado quase sem cortes nas escadas da casa da avó, um lugar com o eco perfeito e onde, em criança, se descobriu músico.
Esse Marquês, 256 – o endereço do prédio – é composto por originais e músicas que, na visão de Ibarra, se adequam àquele espaço. O concerto seguiu uma lógica semelhante, composto por um alinhamento onde, entre a viola e o piano, tocou este trabalho na íntegra, intercalando-o com viagens até outras paragens onde Zé Ibarra se encontra, nas versões de músicas que diz gostar de tocar, como Nuvem negra, popularizada por Gal Gosta, Bad Beat da sua amiga Duda (com quem já partilha uma versão disponível no youtube) e Filhos de Gandhi de Gilberto Gil. Pessoas e colaborações que parecem marcar cronológica e afetivamente a trajetória que começou no endereço Marques, 256 (bem antes do lançamento do disco homónimo) e parece ter ainda tanta estrada para trilhar.
Pelo caminho, ouvimos Essa confusão, composta a meias com Dora Morelenbaum. Idealizada numa madrugada, no percurso entre uma pastelaria fechada e a sua casa, a canção foi considerada demasiado pessoal para integrar o álbum Sim, sim, sim dos Bala Desejo (2021). Apesar de já ter sido apresentada em alguns espetáculos ao vivo da banda, talvez nos surja aqui como uma pista para esse trabalho futuro, prometido para 2024, que o artista garante já estar pronto.
Em simpáticas e íntimas interações com o público, foi destacada a importância neste trabalho da faixa San Vicente. Depois de acompanhar por quatro anos Milton Nascimento, a responsabilidade da interpretação desta faixa estende-se, agora, ao seu projeto a solo. Um áudio de whatsapp para o filho de Milton abriu as portas para a digressão com o veterano e a autorização para gravar esta faixa veio no final como uma prenda. Zé Ibarra garante que esta sempre foi a sua canção preferida de Milton, principalmente depois de descobrir que, a par dele, só Mercedes Sosa – outra grande influência, contou-nos – tinha sido oferecida a possibilidade de a interpretar.
Músicas entrelaçadas por histórias compuseram esta viagem, que teve encore numa única paragem no reportório dos Bala Desejo – Dourado, dourado, a pedido do público, que tão bem o acompanhou – e encerrou com Hello, música de Sophia Chablau, também parte deste álbum em apresentação. Zé Ibarra levou-nos do chuvoso Largo do Paço, em Coimbra, para o quente e ressonante Marquês, 256. Em pouco mais de uma hora, trouxe-nos de volta, despediu-se de nós, mas prometeu voltar em breve. Cá o aguardaremos!
A equipa do Rua do Brasil esteve à conversa com o músico, numa conversa que antecedeu o concerto em Coimbra e que pode ser ouvida na íntegra aqui: