Académica, Manchester City e Inter de Milão: Uma Tríade Inesperada na Final da Champions
Enquanto o mundo do futebol se concentra no embate anglo-italiano em Istambul, poucos conhecem a ligação histórica entre Inter e Manchester City e a Briosa. A RUC revela os laços singulares que unem essas equipas. Uma história fascinante que torna a final deste sábado ainda mais especial.
A final da Liga dos Campeões é sem dúvida uma das noites do futebol Europeu que nos deixam com água na boca. Este ano, os deuses do futebol brindaram-nos com um duelo anglo-italiano entre o Manchester City e o Inter de Milão. Até aqui, nada de novo. Certamente o leitor deste texto já sabe que estas duas equipas se vão enfrentar em Istambul e provavelmente estará a questionar por que motivo a Rádio Universidade de Coimbra (RUC), uma rádio que acompanha exclusivamente a Académica, está a dedicar espaço no seu site à final da Liga dos Campeões. A resposta é simples: ambas as equipas têm uma história com a nossa querida Briosa. Sim, sim, até o Manchester City, clube conhecido por ter pouca história (e mais petrodólares do que bom senso), tem um passado com a velhinha senhora do futebol português.
Antes de existir o ZeroZero os clubes produziam Programas de Jogo. Uma tradição que deixa saudades!
Passo a explicar: O City pode conquistar o seu segundo título da UEFA, depois de ter ganho a Taça das Taças em 1969/1970. Talvez o leitor esteja a perguntar qual a relevância deste dado aparentemente irrelevante para um adepto da Académica. Bem, nos Quartos de Final, a equipa de Manchester defrontou quem? Sim, adivinhou, a Académica de Coimbra, vice-campeã da Taça de Portugal de 1969. O resultado da primeira mão em Coimbra? Zero a zero. Foi então hora de embarcar numa viagem até ao Noroeste de Inglaterra, onde a Briosa defrontou os “blues de Manchester” num jogo que prometia ser muito equilibrado.
O Estádio de Maine Road encheu para ver o duelo entre a Briosa e os Citizens
E o que aconteceu em campo? Mais um jogo tenso, com o placar teimosamente a marcar zero a zero novamente, ou como gostam de dizer os britânicos, “nill nill“. Foi preciso esperar pelo prolongamento para que a partida se resolvesse. E foi nesse momento, já fora do tempo regulamentar, que Tony Towers desferiu um golpe mortal no sonho academista.
O programa do jogo!
O Estádio de Maine Road veio abaixo com a explosão de alegria da equipa da casa. Foram 120 minutos de pura emoção, mas infelizmente o Manchester City silenciou o desejo academista de conquistar a Taça dos Vencedores de Taças. Depois disso, a Académica precisaria mais de 40 anos para voltar a jogar futebol Europeu.
O Arquivo RTP disponibiliza parte da primeira mão: Link Disponível
Na nossa equipa jogavam craques como Manuel António (Bola de Prata na época anterior), Vítor e Mário Campos, Gervásio, Rui Rodrigues (o defesa e não o nosso comentador, claro) e muitos outros. No banco, a Académica tinha o lendário Juca, futuro selecionador nacional. Enfim, uma grande equipa.
Jorge Humberto com o “mago espanhol” Helenio Herrera
E a ligação com o Inter, ou para ser mais preciso, o Football Club Internazionale Milano? É simples, o nome Jorge Humberto diz-vos algo? Talvez não, mas Jorge Humberto, além de ter sido estudante de medicina em Coimbra e craque da Académica no final dos anos 50, foi o primeiro jogador português a transferir-se para o futebol italiano na década de 1960. Sim, sim, da Rua do Norte, ali pertinho da imponente Sé Velha, onde o nosso craque vivia, para a capital da Moda Europeia… Milão!
Anos mais tarde em entrevista ao Diário de Notícias, Jorge Humberto não escondeu a sua incredulidade face ao convite do Inter de Milão: “Jogava na minha Académica e para mim era a única equipa que existia. De repente, recebo este convite pelo telefone… eu morava em Coimbra, numa espécie de república, com mais 15 estudantes, e aquilo de início pareceu-me uma brincadeira.” Na mesma entrevista, Jorge Humberto admitiu que, inicialmente, duvidou da autenticidade do convite do lendário treinador do Inter, Helenio Herrera: “A minha primeira reação foi dizer-lhe ‘deixe-se lá de brincadeiras, vá à sua vida’. Estava desconfiado e pedi-lhe para me ligar outra vez. E ele ligou de volta.”
O Inter pode ganhar a sua quarta “Champions”. José Mourinho foi o timoneiro da terceira orelhuda milanesa.
E qual é a utilidade desta crónica? É simples: quando o hino de Handel começar a ecoar no Estádio Olímpico Atatürk, em Istambul, poderão impressionar os vossos amigos com a história de como o Manchester City roubou uma Taça das Taças à Académica. Por momentos, serão os verdadeiros astros do comentário futebolístico. De nada!