NERVE: “Cada vez que venho a Coimbra gosto cada vez mais”

Uma sala cheia, de jovens e adultos, todos com vontade de acompanhar os versos do artista que por diversas vezes pediu a participação do público. Os mais tímidos ficam-se pelo abanão da cabeça ao som da melodia, enquanto que os mais desinibidos deixam embalar livremente o seu corpo ao som das batidas intensas e das líricas perfurantes do poeta. NERVE, autointitulado de “não-rapper”, é um artista que pertence ao cenário do hip-hop português mas que faz rap de uma forma diferente, para um sempre fiel “nicho” que o próprio criou, tal como me disse o seu companheiro de estrada e produtor musical Il-Brutto, que abriu as hostilidades com um set de músicas próprio do artista, acompanhando NERVE por detrás da mesa de som até ao fecho da cortina.

Numa entrevista gravada entre umas das suas doses diárias de nicotina do artista e na relativa calmaria de uma das ruas anexas ao Largo do Poço, comecei por recolher as primeiras palavras de NERVE que se dirigiram precisamente à cidade que o acolheu na noite de quinta-feira. O artista revelou que Coimbra ocupa o terceiro lugar do pódio no que toca às cidades onde tem mais público, revelando carinho pelos fãs conimbricenses e deixando uma nota de agradecimento à sala de espetáculos que sempre lhe tem fornecido palco para as atuações, o Salão Brasil.

 

“Cada vez que venho (a Coimbra) gosto sempre cada vez mais“

Ao invés do que havia observado no passado, quando eu ainda não era repórter da RUC,  NERVE fez -se acompanhar do produtor musical Il-Brutto, que abriu as hostilidades com um set da sua autoria, acompanhando depois o espetáculo de NERVE por detrás dos comandos da mesa de som. Aproveitando o embalo da conversa em torno da presença já regular de Il-Brutto nos seus concertos, NERVE acabou por falar também no projeto em que os dois participam em conjunto com o artista musical TILT: o ESCALPE.

 

“Temos uma visão comum que é uma coisa que eu nunca tinha partilhado nos 20 anos em que faço música“

Apesar de já estar de volta à estrada e a atuar em salas de espetáculos, não quis deixar de questionar ao artista acerca da maneira como encarou a situação pandémica da COVID-19 e a quarentena que lhe impôs uma suspensão dos concertos em formato presencial. NERVE revelou que tinha algumas cartas na manga que decidiu lançar neste período. O artista revelou que encontrou a resposta a esta problemática aumentando o seu campo de ação, abrindo para o efeito várias “torneiras” que o permitiram conseguir manter o seu sustento financeiro.

 

“A torneira dos concertos fechou e eu tentei abrir mais as outras e ver que outro tipo de torneiras podia abrir“

Uma das vertentes que NERVE tem explorado nos últimos tempos é a do design gráfico. O grande público terá tido conhecimento desta valência do “não-rapper” quando o artista e produtor musical Benji Price lançou o seu mais recente álbum “Ígneo” com uma capa da autoria de NERVE. Tiago Gonçalves explicou como se possibilitou esta colaboração entre os artistas bem como as inspirações por detrás do design desta capa.

Enquanto artista multifacetado, houve espaço ainda para nos elucidar acerca do seu projeto PURGA, onde NERVE se foca mais na sua componente poética, referindo também que este é um projeto que oferece um “porto seguro” para quem escreve poesia, oferecendo um palco a todos aqueles que tenham vontade de declamar os seus escritos.

 

“A única regra aqui é que seja poesia dita por quem a escreve, não é um sítio para declamar poesia já consagrada“

Antes do ponto final na nossa conversa, fui ambicioso e pedi a NERVE se gostaria de apresentar algum projeto que estivesse a “cozinhar” para o futuro. NERVE é o tipo de artista que trata de fabricar o diálogo adequado quando acha que tem algo a dizer, mas felizmente não me deixou em branco, revelou que a continuidade dos projetos que tem vindo a desenvolver são para o imediato o foco das suas energias, considerando também que ultimamente já tem vindo a desenvolver um trabalho que se distancia do que se observa nos álbuns e EPs do passado.

 

“Acho que ultimamente até tenho apresentado um registo diferente daquele que me era mais usual “

 

Coimbra não era território desconhecido para o artista, em 2016, Tiago “NERVE” Gonçalves tinha já vindo ao Salão Brasil em Coimbra para apresentar  o álbum “Trabalho & Conhaque”, tendo retornado em 2018 para promover o EP “Auto-Sabotagem” que lançou ao público nesse mesmo ano. Aguardamos o retorno do artista desejando que faça mais frequentemente parte do programa cultural da cidade.

 

Foto da autoria de Tomás Santos.

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