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25.11.2021POR João Ribeiro

CRÓNICA RUC: SUPER BOCK EM STOCK – DIAS 19 E 20 NOVEMBRO 2021

A RUC esteve presente no esperado regresso do Super Bock em Stock nos dias 19 e 20 de novembro, que contou com mais de 50 artistas por 10 palcos, na Avenida da Liberdade em Lisboa.

 

O esperado retorno à Avenida da Liberdade – após um hiato de 2 anos do festival citadino Super Bock em Stock desde a vinda de Michael Kiwanuka em 2019 – milhares de pessoas tiveram a oportunidade de voltar a sair de casa e assistir a concertos de mais de 50 artistas nacionais e internacionais, espalhados por 10 salas nos dias 19 e 20 de novembro. Um festival que sempre destacou grandes nomes do indie-rock, apresenta cada vez mais um cartaz diversificado nos géneros musicais que por aqui passaram, com vários nomes do R&B, hip-hop, eletrónica e rock.

 

— 19 de Novembro —

 

Iniciamos a noite de 6ª feira com Vasco Narciso natural de Lisboa, na Sala Rádio SBSR.FM (Estação Ferroviário do Rossio), artista formado em guitarra jazz pelo Hot Club de Portugal e pelo Conservatório de Amesterdão. Recentemente juntou mais 3 elementos ao seu projeto Narciso, já com os palcos em vista. “Anticorpo” é o seu 1º lançamento, tratando-se de um EP com 4 faixas instrumentais, onde se sentem as influências do jazz, pop e indie-rock, destacando-se aqui o single “Leve”, tema ilustrativo do conceito deste trabalho: a ultrapassagem de barreiras e a busca pela tranquilidade.

 

Fazendo a primeira entrada na Sala Super Bock, para assistir a um espetáculo repleto de energia oferecido pela parceria criada entre Mundo Segundo & Sam The Kid. Mundo Segundo é o líder dos Dealema e Sam The Kid já é sinónimo de hip-hop em português, um dos mais fortes símbolos que esta cultura gerou a nível nacional. Enquanto dupla, os dois rappers têm mostrado todos os seus atributos através de singles como “Brasa” feat. Zacky Man, “Tu Não Sabes” ou “Também Faz Parte”, e ainda a acompanhar com vários clássicos que foram entoados pelo público neste primeiro concerto no Coliseu dos Recreios.

 

Retornamos à Estação do Ferroviário do Rossio para assistir ao cantautor luso-sueco Filipe Karlsson – também conhecido enquanto guitarrista do projeto “Zanibar Aliens” – estreia-se nas edições em plena pandemia numa altura em que as “Teorias do Bem Estar” acabaram por se revelar mais essenciais do que nunca. Canções como o seu mais recente single “Vento Levou” ou “Razão” do EP “Modéstia à Parte”, levaram o público a levantar o pé do chão e a cantar em uníssono os refrões das mesmas. Determinado em não baixar o ritmo e continuar a espalhar o seu positivismo, Karlsson reserva-nos para 2021 o último EP desta trilogia de curtas-durações, trabalho a não perder.

 

Em direção ao cabeça de cartaz da noite de 6ªfeira – os londrinos Django Django na Sala Super Bock. Pouco a pouco, foram aquecendo a plateia, levando-a ao rubro através de vários êxitos conhecidos como “Default” e “Hail Bop” do álbum homónimo editado em 2012 que lhes valeu uma indicação para o Mercury Prize, ou as mais recentes canções “Glowing in the Dark” e “Spirals” do álbum “Glowing in the Dark” publicado no ano passado. A fuga é um dos temas fortes deste novo disco dos Django Django: fuga das restrições, do desespero ou da vida numa pequena cidade. Mas esta fuga vem sempre acompanhada de uma esperança e otimismo que marcam esta nova fase da banda, com o seu dançável art rock sempre presente.

 

Quase a terminar a primeira noite do Super Bock em Stock, seguimos pela baixa lisboeta para a Sala Rádio SBSR.FM começando o concerto da banda natural de Cambridge (onde os elementos se conheceram em percursos universitários), Sports Team – com o seu britpop e rock alternativo altamente contagiante. Entregaram uma performance eletrizante e despretensiosa, deixando todos os presentes surpreendidos com a capacidade energética que algumas das suas músicas como “Here’s the Thing”, “M5” ou “Camel Crew” transmitem, oferecendo um dos melhores momentos da noite. O aguardado álbum de estreia “Deep Down Happy” chegou ao público em junho de 2020 sendo nomeado para um Mercury Prize, trabalho este que se seguiu ao EP “Keep Walking!” anteriormente publicado em 2019.

 

Concluímos a primeira noite com Rui Pregal da Cunha & Paulo Pedro Gonçalves em formato Live DJ Set, de volta ao Coliseu dos Recreios. Dois nomes com uma importante e longa história na música portuguesa. Paulo Pedro Gonçalves esteve ligado à banda pioneira Corpo Diplomático e, mais tarde, com Rui Pregal da Cunha, é também responsável pelos Heróis do Mar e os LX-90. Neste concerto, foram ouvidos alguns clássicos da música portuguesa, tais como “Paixão”, “Só Gosto de Ti” ou “Amor”, enchendo a atmosfera com uma nostalgia palpável, acompanhada pela guitarra e a voz de todos os presentes. O power duo que fez o Super Bock em Stock sentir, cantar e dançar à boa maneira portuguesa, terminando assim a primeira noite pela Avenida da Liberdade.

 

— 20 de Novembro —

 

Recarregadas as baterias, iniciamos o segundo dia do festival com a Curadoria Cuca Monga: El Salvador & João Sala, no elegante Palácio da Independência. O Conjunto Cuca Monga foi responsável pela curadoria deste palco para as duas noites do festival, onde passaram vários projetos desde Rapaz Ego & Fernão Biu, Atalaia Airlines, e BishpØ. João Sala é vocalista dos Ganso e teclista dos Zarco. Salvador Seabra é baterista dos Capitão Fausto, Modernos e a solo apresenta-se como El Salvador. Neste concerto apresentaram-nos uma série de canções de Ganso, Zarco e de El Salvador.

 

Para aquecer a audiência no início de mais uma noite, assistimos a Tim van Berkestijn natural de Amsterdão, mais conhecido por Benny Sings na Sala Super Bock. Músico que já conta colaborações com artistas tais como Free Nationals, Mayer Hawthorne, PJ Morton, entre outros. As alegres e pausadas canções de Benny remetem-nos para as décadas de 70 e 80, mas também trazem consigo uma leve onda R&B mais moderna, acompanhada por uma banda bem composta a nível instrumental, quer seja com acompanhamentos no baixo, guitarra, teclados ou saxofone. Benny já vai na 8º edição discográfica da sua carreira, com o lançamento de “Music” em 2021 pela editora americana independente Stones Throw Records. Este álbum contou com a participação de nomes nossos conhecidos como Tom Misch, KYLE ou Mac DeMarco, fazendo a vontade dos presentes dos êxitos tocados “Rolled Up”, “Nobody’s Fault” ou “Passionfruit”.

 

Assistimos a mais um concerto no Coliseu dos Recreios, desta vez para dar palco aos dinamarqueses Iceage. A energia crua e explosiva da banda revelou-se logo na estreia de “New Brigade” editado em 2011, mostrando um grupo formado no pós-punk, hardcore e wave. Seguiram-se “You’re Nothing” em 2013, “Plowing Into the Field of Love” em 2014 e “Beyondless” em 2018. Peter Kember, produtor de MGMT e Beach House, foi o escolhido para produzir “Seek Shelter”, o 5º álbum da banda. Este último trabalho foi gravado em Lisboa nos estúdios Namouche ainda antes da pandemia, e foi lançado no passado dia 12 de novembro.

 

Mais uma moedinha, mais uma voltinha. Numa noite de outono em Lisboa, estreiam-se as britânicas Wet Leg na Estação Ferroviária do Rossio, para a melhor surpresa deste Super Bock em Stock. Tudo começou quando Rhian Teasdale e Hester Chambers decidiram formar uma banda com guitarras em punho, uma imaginação efervescente e uma paixão partilhada pela música de nomes como The Ronettes, Jane Birkin, Ty Segall e Björk, onde se sente a influência do surf rock dos anos 60. É difícil imaginar melhor início do que o apresentado pelo single “Chaise Longue”, capaz de incendiar todo o público – ideal para quem já tinha saudades de um bom mosh pit ou crowdsurfing! Este single torna-se assim um clássico instantâneo, capaz de colocar o mundo de olhos postos no futuro das Wet Leg, que assinaram recentemente com a editora discográfica “Domino Recording Company”.

 

E não haveria melhor forma de terminar este festival, sem ser com Moullinex & Anna Prior em formato b2b DJ Set. Quem tinha saudades de abanar o corpo ao som da música eletrónica acompanhada pelo batimento de milhares de corações na Sala Super Bock, teve aqui a oportunidade perfeita. Moullinex, o alter-ego do viseense Luis Clara Gomes, convida vários géneros musicais para a sua música: desde o soul, funk, garage rock e até MPB, tudo serve para enriquecer a sua eletrónica. Enquanto que Anna Prior, a conhecida baterista de Metronomy, DJ e fundadora da Beat Palace Records, vive neste momento em Portugal e integra a Match Attack, grupo ao qual Moullinex também pertence.

 

Assim termina a edição de 2021 do Super Bock em Stock, onde provavelmente se fez sentir a falta de um nome internacional mais sonante a encabeçar este belo fim-de-semana de novembro, porém repleto de boas e novas surpresas no panorama musical. Em 2 dias e ao longo de 10 palcos – desde o Coliseu dos Recreios, Estação do Rossio, Cinema de S. Jorge, Teatro Tivoli, entre outros – foi dada a oportunidade a um grande leque de artistas nacionais que surgem de forma veemente no panorama da música portuguesa e que continuarão a dar cartas, juntamente com artistas internacionais emergentes que tivemos a oportunidade de conhecer e ouvir.

 

Crónica e Fotografias por: João Ribeiro

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