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12.10.2021POR Hugo Ventura

A RUC no Iminente’21 – Dia 9/10

A RUC esteve no passado sábado, dia 9, em Lisboa, no Festival Iminente, que veio a tornar-se um marco na agenda nacional após a sua criação em 2016, não só pelos alinhamentos emergentes e cativantes, mas pela atmosfera que se envolve ao seu redor e, também, por promover diversos ramos da cultura.

Com uma pausa forçada em 2020, podemos adiantar que, finalmente, estavam reunidas as condições para voltar a sentir o alvoroço e a energia característica de um festival. E o Iminente veio mais que a tempo de trazer essa lufada de ar fresco aos que já sentiam falta, não de um, mas de vários concertos de rajada. Nesta edição de 2021 aproveitaram a antiga refinaria da Galp, na Matinha, pertencente à freguesia de Marvila, para recriar o cenário que outrora já tinha sido montado no Jardim Municipal de Oeiras e no Panorâmico de Monsanto.

 

Talk

Como vem a ser habitual, os dias no Iminente começam sempre com um debate de ideias informal, este ano com a curadoria de António Brito Guterres. A conversa que introduziu o dia 9 recaiu sobre o tema “O papel da arte e da cultura na equidade territorial urbana” e teve a participação de Pedro Coquenão, artista multifacetado que se dá pelo nome de Batida, Vítor Sanches, uma das caras da loja de roupa sustentável Bazofo, e Raquel Santos, do Coletivo Warehouse. Debruçaram-se sobre a problemática de pessoas de ascendência africana ao integrarem-se na Grande Lisboa. Vítor Sanches deu conta que estas pessoas acabam por se estabelecer na periferia e lá criar os seus próprios meios e ter acesso a todos os outros que necessitem, evitando enfrentar o sentimento de pessoa indesejada. Raquel Santos, por sua vez, é parte ativa no combate a estas barreiras através de vários projetos com bairros da zona, impulsionados pela Warehouse, e vê, em conjunto com Pedro Coquenão, uma esperança ao fundo do túnel para que as diferenças entre a periferia e o centro se diluam.

 

Palco Choque

O Palco Choque trata-se de uma pista de carrinhos de choque, sem carrinhos, recriada para acolher várias atuações, mais intimistas e em que a distância entre artista e público se viria a encurtar ao longo dos concertos. Foi cenário para Tekilla, rapper português consolidado no panorama nacional, que veio munido do seu mais recente trabalho Olhos de Vidro, lançado pela emblemática editora inglesa Barely Breaking Even Records. Revigorado nas produções e com saudades do contacto com o público, conseguiu desfrutar do que o fazia feliz e contagiar esse sentimento para os demais que assistiam. Também as Active Mess, um grupo de 4 elementos contruído através de um projeto social em 2017, passaram por este palco e trouxeram alguma harmonia com arranjos em violinos e contrabaixo.

 

Palco Cine Estúdio

Seguimos para o Palco Cine Estúdio, num armazém abandonado, de onde saiu o espetáculo mais improvável do dia proporcionado por Silverio, um irreverente da música eletrónica que mistura o rock com o hard techno, um macho latino que quando sobe a um palco é capaz de tudo! O ambiente era de discoteca e a ordem era para dançar, a soma perfeita, onde a censura não pôde imperar, caso contrário a relação amor-ódio com o público iria-se deteriorar e a sua performance deixaria de fazer sentido.

 

Palco Gasómetro

Chegamos agora ao grande palco do festival, o Palco Gasómetro, onde se fez apresentar Prétu, anteriormente conhecido como Chullage, a trazer uma nova identidade não só ao seu nome como, também, às suas líricas e sonoridades, não a perseguir géneros mas sim significados nas suas composições impulsionadas pela sua inquietude. Interpretou vários temas, tais como, as colaborações com Dino D’Santiago e Scúru Fitchádu, e arrebatou a plateia com os seus dotes de precursão. Logo depois surgiu Nenny, o prodígio da música portuguesa que vai galgando internacionalmente. Mostrou-se pela primeira vez em palco no Iminente, e não podia ter escolhido melhor sítio, com vista sobre o Tejo, com o calor e apoio do público, Nenny estava a jogar em casa e arrancou várias vezes a voz da plateia com os temas “Tequila” e “Sushi”. O concerto fica marcado pela dedicatória de Nenny à sua mãe, com esta presente no palco e a contemplar a sua filha a interpretar o tema “Dona Maria”. O clímax da noite chegou com os Slum Village, o incontornável grupo de Detroit voltou a Portugal 6 anos após a última aparição na Ericeira. T3 e Young RJ aguçaram o apetite do público com as exemplares “The Look Of Love” e “Things We Do”, entre outras, sempre com a aura de J Dilla a pautar um concerto memorável, mais um para a conta do Iminente. Os últimos momentos da noite ficaram a cargo de Branko, a encerrar em alta o palco principal, com uma audiência sedenta dos seus ritmos universais e a necessitar de se aquecer! Para ele vem-se tornando cada vez mais fácil cumprir essa tarefa, e muito mais! Brindou-nos com temas do seu percurso a solo, reviveu tempos de Buraka Som Sistema e completou com inúmeras colaborações, duas das mais recentes em que participam nomes como Ana Moura e EU.CLIDES, que estiveram, no dia seguinte, presentes no festival.

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